domingo, 2 de abril de 2017

A Viola Caipira

Organizado por Marcello Ferreira Soares Junior

Aqui você vai encontrar anotações sobre gêneros folclóricos brasileiros. Não são "estudos", só anotações rápidas. O conteúdo dessa postagem eu organizei/elaborei por causa da carência de material para ministrar aulas (interessantes) de música para turmas "mais velhas" em colégios Se alguém tive informações interessantes colabore nos comentários! Valeu!!

A viola é um símbolo do Brasil rural. Em todos os cantos, seu jeito próprio de tocar o instrumento criou ritmos musicais dos mais variados: moda de viola, cururu, catira calango, fandango...Pandeiro, rabeca, violão e sanfona são instrumentos que completam a “orquestra rural brasileira”. Juntos ou separados, Eles animam qualquer  baile ou festa do interior. Fonte: Ritmos Brasileiros - Ricardo Elia. Pág 80.

Viola caipira é o ícone da cultura rural musical brasileira. 


Sua imensa popularidade, principalmente no interior do Brasil, faz dela não só um patrimônio como também um dos grandes veículos da expressão cultural e folclórica do nosso povo.


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Violeiro - José Ferraz de Almeida Jr. (1899)

Sua origem está ligada as violas portuguesas que, por sua vez, como a maioria dos instrumentos europeus descendem do Oud árabe.  As violas portuguesas chegaram ao Brasil com os jesuítas e colonos portugueses. O instrumento se espalhou pelas diversas regiões do país. 

Os jesuítas usaram a música como uma das principais ferramentas na catequese dos povos indígenas. A viola foi um dos principais instrumentos musicais nessa empreitada.

 A Viola recebe diferentes denominações no interior do Brasil: viola de pinho, viola caipira, viola sertaneja, viola de arame, viola nordestina, viola cabocla, viola cantadeira, viola de dez cordas, viola chorosa, viola de queluz, viola serena, viola brasileira.

Oud
Viola Portuguesa
Viola Caipira
Viola Dinâmica
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Viola Cinturada
Viola Cocho




A viola caipira apresenta um formato semelhante ao violão. Porém difere nas proporções do corpo e na disposição e quantidade das cordas das cordas. As cordas da viola seguem a seguinte disposição: 10 cordas, divididas em 5 pares.
Os dois pares (1 e 2) mais agudos são afinados na mesma nota e mesma altura. Já os demais pares (3, 4 e 5) também são afinados na mesma nota, contudo a corda de cima do par é afinada uma oitava mais grave que a debaixo. Estes pares de cordas são tocados sempre juntos, como se fossem uma só corda.


Uma das características marcantes da viola é sua variedade de afinações. Cada afinação depende da região e do tipo de música a ser tocado.

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Expressões poéticas da viola 

A moda de viola é a principal forma da canção rural brasileira. Ela se apresenta em vários formatos e ritmos: toadas, cantigas, viras, canas-verdes, valsinhas, declamações e modinhas. A moda de viola tem uma origem antiga e une diferentes tradições culturais árabes, africanas e medievais europeias. A palavra moda era usada no português antigo, para aglutinar a ideia de canto, melodia ou música. No Brasil essa palavra passou a designar um tipo de canção rural. 

 Nas regiões centro-oeste e sudeste, as modas de viola são previamente escritas e decoradas. No Nordeste, os cantadores cantam de improviso, o chamado repente. 

 Exemplo: 

Chora Viola - Tião Carreiro e Pardinho


Riff
Eu não caio do cavalo nem do burro e nem do galho
Ganho dinheiro cantando a viola é meu trabalho
No lugar que tem sêca, eu de sêde lá não caio
Levanto de madrugada e bebo o pingo de orvalho
Chora viola -Riff
Não como gato por lebre, não compro cipó por laço
Eu não durmo de botina não dou beijos sem abraço
Fiz um ponto lá na mata caprichei e dei um nó
Meus amigos eu ajudo, inimigo eu tenho dó
Chora viola - Riff
A lua é dona da noite o sol é dono do dia
Admiro as mulheres que gostam de cantorias
Mato a onça e bebo o sangue, furo a terra e tiro o ouro
Quem sabe aguentar saudade não aguenta desaforo
Chora viola - Riff
Eu ando de pé no chão piso por cima da brasa
Quem não gosta de viola que não ponha o pé lá em casa
A viola está tinindo, o cantador tá de pé
Quem não gosta de viola, brasileiro bom não é
Chora viola - Riff

Lendas e mitos
A afinação Cebolão recebeu esse nome, pois se acreditava as mulheres se emociona ao ouvi-la, como quem corta cebola. A afinação Rio Abaixo está ligada a lenda de que o Diabo costumava descer os rios tocando viola nessa afinação e, com ela, seduzindo as moças e as carregando rio abaixo. Diz-se que violeiro que utiliza esta afinação pode estar enfeitiçado ou ter feito pacto com o demônio. Acredita-se que a arte de tocar viola é um dom divino e que poucos tem esse bom para se tornar uma bom violeiro. Porém, existe o mito popular que alguns podem adquirir habilidade para ser um bom violeiro através de sortilégios mágicos como como simpatia da cobra-coral. Outro modo seria fazer rezas no túmulo de algum antigo violeiro na sexta-feira da paixão. Ou através de um pacto Diabólico para aprender a tocar viola. Em certas regiões, por tradição, as violas carregam pequenos chocalhos feitos de guizo de cascavel, segundo a crença popular esse objetos te poder de proteção para a viola e para o violeiro.
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Rapidinhas: Milonga

Organizado por Marcello Ferreira Soares Junior

Estou postando uma série rápida de anotações sobre gêneros folclóricos brasileiros. Não são "estudos", só anotações rápidas. O objetivo é auxiliar um pesquisa rápida. Se alguém tive informações interessantes colabore nos comentários! Valeu!!


O termo Milonga vêm do dialeto Quimbanda (originário de Angola) e significa Palavra. Na região da bacia do Rio da Prata, o termo Milonga batizou o gênero musical muito particular da região. Inicialmente, o termo era usado da designar as danças entre casais (danças de origem afro ou europeias). A Milonga canção se desenvolve com os “payadores” que eram um mistura de músicos, poetas e contadores de histórias itinerantes (muitos deles ex-escravos).
Hoje a Milonga assume várias formas (canção, instrumental, música dançante) e é associada músicos de diferentes vertentes e gerações como: Atahualpa Yapunqui (Arg); Jorge Drexler (Uru), além dos gaúchos César Passarinho, Airton Pimentel e Vitor Ramil.
A origem da milonga (milonga campera) não é seguramente conhecida. Acredita-se, que a Milonga contenha tantos elementos da cultura Afro-americana (Candoblé, por causa de sua constituição rítmica), quanto de danças europeias Habanera (Espanha) e Quadrilha (portuguesa e francesa) que chegaram à  Buenos Aires e Montevidéu através, principalmente, Peru, Espanha, Brasil e Cuba.

Os elementos musicais compartilhados entre a África e Europa passaram por transformações e adaptações em cada região por onde passaram no continente americano. Isso resulta numa infinidade de variações e alguns semelhanças da Milonga com outros ritmos, como Chamarrita. O próprio Tango (gênero musical símbolo da Argentina) surge como um subgênero da Milonga.
A Milonga se popularizou no sul do Brasil no período da Guerra do Paraguai, com a formação do Grande Exército (formado por tropas argentinas, uruguaias e brasileiras). Os brasileiros tiveram contato com esse gênero já bastante difundido nos países vizinhos de língua espanhola.

Alguns pesquisadores (principalmente porteños e uruguaios) dividem a Milonga (à grosso modo) em duas categorias básicas:

Campera, pampeana ou surera (sureña) que é a folclórica “tradicional”. 


Ciudadana ou sentimental que surgiu no anos 30 na Argentina e foi muito difundida pelo músico e compositor argentino Sebástian Piana. A Milonga Ciudadana ou sentimental era uma versão estilizada da Milonga Campera. 


Outras variantes:

Milongón - surgiu e se desenvolveu pelos compositores negros de Montevidéu (Uruguai).

Chorrillera (ou chorrillero) - Música folclórica da província de Santa Cruz (Argentina). Mistura a Milonga com o Kaani (dança e música argentina com influências indígenas).
Detalhes técnicos.
A divisão rítmica da milonga é uma de suas características singulares.
Para entender sua divisão, vamos observar um compasso simples (4/4 ou 2/4) em três acentuações. Utilizando como unidade a colcheia no compasso 4/4 e a semicolcheia no compasso 2/4. Essa divisão pode ser representada por um esquema número: 3+3+2.
Dedilhando muito utilizado na Milonga.





















Letras

A Milonga é um canal de expressão natural do cancioneiro na região sul da América Latina.
Suas letras apresentam alguns aspectos gerais:
As letras são muitas vezes são escritas em forma de narrativa. Cheias de imagem poéticas e relações com a vida do campo. Apresentam em muitos casos sempre uma atmosfera bucólica e introspectiva. Tratam da vida do homem dos pampas, seus amores, sua ligação com o modo de vida e a simplicidade do campo.
Exemplo: A Bela canção Guri de Cesar Passarinho.
Das roupas velhas do pai queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa e uma bombacha e me desse

Queria boinas e alpargatas e um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas no meu petiço sogueiro

Hei de ter uma tabuada e o meu livro "Queres Ler"
Vou aprender a fazer contas e algum bilhete escrever
Pra que a filha do seu Bento saiba que ela é meu bem querer
E se não for por escrito eu não me animo a dizer… (trecho de Guri de César Passarinho)

Dois grandes poetas e compositores do gênero no Brasil são César Passarinho e Aírton Pimentel.
A Milonga também deu espaço ao discurso político com compositores como o argentino Atahualpa Yapunqui. E no Rio Grande do Sul, com a canção Semeadura de Vitor Ramil e Carlos Moscardini. Contudo, em momentos bastante pontuais. Compositores como Vitor Ramil e Jorge Draxler procuram dá uma roupagem mais contemporânea ao gênero musical tanto na construção temática das letras como em experimentos formais de estrutura musical. Outro exemplo notável dessa releitura da milonga é o compositor e músico Oly Jr e sua milonga blues.
A Milonga também tem seu lado instrumental com músicos como Jorge Cardoso e Renato Borghetti.




Analisando a forma na música popular. Parte 2: Formas mais comuns da canção baseadas no texto das letras.

Organizado por Marcello Ferreira Soares Junior

Obs: Analisando a forma na música popular - Parte 1 Click

Por muito tempo fui muito reticente em escrever algo sobre segmentar a canção tomando como base a letra. Apesar de ser algum muito comum entre os ouvintes e músicos em geral. Sentia falta de algum texto amplamente aceito para poder me lança nessa empreitada. Os textos acadêmicos muitas vezes não chegavam a lugar nenhum (pois a maioria não trata da estrutura musical da canção, pois não são escritos por músicos).  

Um belo dia, eis que encontrei esse texto de forma inusitada e interessante! O texto? Autoria Musical para Leigos! Sim! A versão brasileira daquela coleção For Dummies! Se vocês chegou até aqui no texto e torceu o nariz! Então não continue... Ou continue e tenha uma agradável surpresa! Um texto bem elaborado e escrito por produtores e músicos experientes na área de produção! Tomei esse texto como base para e somei a algumas ideias próprias. 

Divirtam-se!!!

As canções folclóricas e o Blues de doze compassos foram a base para as primeiras canções populares modernas (entende-se por isso canções do século XX).

Essas categorias organizam a forma da música, tomando como referências a distribuição do texto da canção.
Na lista abaixo, são apresentadas algumas das formas mais comuns usadas na canção:
  • Forma de estrofe única;
  • Forma de duas estrofes;
  • Forma estrofe-refrão (variação);
  • Forma estrofe-refrão usando pré-refrão;
  • Forma estrofe-refrão usando ponte;
  • Forma rapsódia.
Devemos levar em consideração que existem milhares de variações e modelos de forma usados na música popular. Mas para título de conhecimento básico, o domínio dessas formas básicas pode auxiliar no reconhecimento e criação de qualquer modelo.

Forma de estrofe única: Basicamente esta forma apresenta uma única estrofe sempre com mesma melodia sobre a qual é colocada uma letra diferente a cada apresentação da estrofe.
Sua origem está na canção folclórica. Na música popular podemos observar o uso dessa forma na música folk. É comum o uso dessa forma em canções que narram histórias.  
Exemplo: Matty Groves (canção folclórica inglesa)

Forma de duas estrofes: Muito utilizada nas canções da Broadway nas décadas de 40 a 60. Inicialmente essa forma não foi muito utilizada na canção popular.
Essa forma “evita” o efeito do refrão. Ela procura manter o mesmo “clima” por toda a canção evitando o clímax gerado pelo refrão.

Características:
Muitas vezes, as melodias das duas estrofes são iguais. Contudo, muitos compositores iniciam as melodias das estrofes de forma idêntica e adicionam uma modificação no final. É comum o uso de intermezzos instrumentais entre as estrofes.  Muitas canções que usam essa forma apresentam textos narrativos.   
Exemplo: Love Song – The Cure.
Podemos observar que apesar do uso de trechos instrumentais “dividindo” as partes das canções, os compositores equilibram as melodias, nenhuma delas gera um clímax nas canções, mas por outro lado, nenhum é menos interessante que a outra.

Forma de duas estrofes com variação: Nesta variação as duas estrofes são seguidas de outro segmento, que apresenta uma melodia diferente. Essa nova parte não funciona como um refrão.
Esse segmento, muitas vezes, cria a sensação de clímax, mas ele não se caracteriza como um refrão. Para efeito de identificação vamos chamar esse segmento de variação ou trecho modificado.
Exemplo:
Time – Pink Floyd.
Na canção temos duas estrofes com melodias e harmonias diferentes, essas duas estrofes dominam a canção numa relação de posição e complementação. No trecho final encontramos uma terceira estrofe um uma melodia que soa como uma variação da segunda estrofe, mas com uma harmonia diferente.
Something – The Beatles.
Observe o trecho da letra “You're asking me will my love grow I don't know, I don't know” esse trecho modificado expande a forma de duas estrofes. Aqui temos mudanças do tonos, do arranjo e do tonalidade da canção.

Forma Estrofe/Refrão: Essa é a forma mais comum da canção popular. Nela se alternam os dois segmentos básicos da canção: a estrofe e o refrão. A história contada nas estrofes alcança seu auge no refrão (que muitas vezes traz o título da canção).
Nesse caso a melodia e o arranjo do refrão são muito mais “atraentes” que aquela apresentada na estrofe.  
Exemplo: Fallin’ – Alicia Keys.
No exemplo a alternância entre estrofes e refrãos é bem clara e direta. Podemos observar as diferenças marcantes entre as melodias e os arranjos dos dois segmentos.

Forma estrofe-refrão usando pré-refrão: Como vimos, anteriormente, o pré-refrão é um segmento curto que ocorre entre uma estrofe e o refrão. Ele apresenta uma melodia diferente que cria uma “expectativa” para o que vem a seguir.
É uma forma de composição sofisticada, e muitas vezes, os pré-refrãos não precisam apresentar sempre a mesma letra, assim, sua criação necessita de elaboração e criatividade do compositor.   
Exemplo: Rolling in the Deep – Adele
Essa canção apresenta um recorte exato das partes da letra. O pré-refrão inicia quando a letra chega ao trecho: The scars of your love remind me of us.

Forma estrofe-refrão usando ponte: Como vimos o objetivo da ponte é conectar dois segmentos da canção. Ele ocorre entre duas estrofes ou logo após o refrão para conectar à uma estrofe.
Exemplo: Hands – Jewel
O trecho “In the end only kindness matters” inicia uma parte que “quebra” a continuidade e conecta dois refrãos. Isso sem criar a expectativa de um pré-refrão.

Forma Rapsódia: Essa é uma forma aberta quase inclassificável. Sua estrutura não segue os padrões vistos anteriormente. Nesta estrutura, compositor produz vários segmentos diferentes que se alternam, gerando um fluxo “progressivo”. Muitas vezes nessa forma nenhum trecho se repete.   Apesar de ser estrutura e programa, essa forma dá ao ouvinte uma impressão de improvisação em relação à forma.
Essa forma é muito usada e gêneros mais experimentais como o jazz e o rock progressivo.
Exemplo: Bohemian Rhapsody – Queen.


Harmonia Modal 2: Os acordes por Quartas

  Por Marcello Ferreira Soares Jr Oi pessoal, antes de começar sugiro ao leitor que leia o artigo anterior sobre Harmonia Modal ( LINK ). A ...