terça-feira, 4 de setembro de 2018

A Milonga: uma introdução.

Organizado por Marcello Ferreira Soares Junior

Gênero musical e poético Milonga: De onde vim e quem sou eu?


Apresento uma introdução através desse material que organizei para para alunos do ensino médio. O material é baseado em estudos, artigos e vídeos documentais brasileiros, argentinos e uruguaios.
Gênero musical e poético Milonga: De onde vim e quem sou eu?
O termo Milonga vêm do dialeto Quimbanda (originário de Angola) e significa Palavra. Esse dialeto foi trazidos para América do Sul pelos escravos advindos da África ocidental. Esse termo foi utilizado para identificar a Payada. A Payada (na Argentina, Uruguai, sul do Brasil e em parte de Paraguai e Chile) é uma forma de improviso poético musical, trazido da cultura hispánica e ibérica, e que adquiriu uma forma própria na região Sul da América. 
A figura do payador uma mistura de músico, poeta e contador e de histórias itinerantes, essa figura têm paralelos com vários outros tipos de músicos itinerantes do Brasil como os cantadores e repentistas. Os Payadores contavam histórias em rimas acompanhados pelo violão ou guitarra espanhola e tocavam música para dança. 
A categoria de músicos poetas tem suas origens no mundo antigo e nas mais diferentes civilizações (Grega, Hindu, Romana, Árabe, Povos indo-europeus e África subsaariana). 
Na região da bacia do Rio da Prata, o termo Milonga batizou esse gênero musical tão particular da região. Inicialmente, o termo era usado da designar as danças entre casais (danças de origem afro ou europeias). A Milonga canção se desenvolve graças aos “payadores”.
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Atahualpa Yapunqui
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Airton Pimental
            
Hoje a Milonga assume várias formas (canção, instrumental, música dançante) e é associada músicos de diferentes vertentes e gerações como: Atahualpa Yapunqui (Arg); Jorge Drexler (Uru), além dos gaúchos César Passarinho, Airton Pimentel e Vitor Ramil. 
A origem da milonga (milonga campera) não é seguramente conhecida. Acredita-se, que a Milonga contenha tantos elementos da cultura Afro-americana (Candoblé, por causa de sua constituição rítmica), quanto das danças europeias Habanera (Espanha) e Quadrilha (portuguesa e francesa) que chegaram à  Buenos Aires e Montevidéu através, principalmente, de rotas comerciais do Peru, Espanha, Brasil e Cuba. Entre suas origens musicais temos a Guajira, gênero de origem caribenho conhecido na Espanha do séc. XVIII com Punto de La Habana
Os elementos musicais compartilhados entre a América e Europa passaram por uma série transformações e adaptações passando pelo filtro da cultura afro americana em cada região por onde passaram. Esse fenômeno resultou nas semelhanças da Milonga apresenta com outros ritmos, como, por exemplo, a Chamarrita. O próprio Tango (gênero musical símbolo da Argentina) surge como um subgênero da Milonga.
Podemos dividir em a Milonga é classificada por alguns pesquisadores dentro de duas categorias básicas:
Campera, pampeana ou surera (sureña) - é a folclórica “tradicional”. 
Ciudadana ou sentimental - surgiu no anos 30 na Argentina com o músico e compositor Sebástian Piana. A Milonga Ciudadana ou sentimental era uma versão estilizada da Milonga Campera. Esse estilo assume tanto a forma instrumental quanto canção
Outras variantes:
Milongón - surgiu e se desenvolveu pelos compositores negros de Montevideo (Uruguai).
Chorrillera (ou chorrillero) - Música folclórica da província de Santa Cruz (Argentina). Mistura a Milonga com o Kaani (dança e música argentina com influências indígenas).
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Muitos gêneros musicais da região da Bacia Platina tens ligação com a Milonga: Tango, Chamarrita, Zamba, Chacarera, Chamamé, Guarânia.
Detalhes técnicos

A divisão rítmica da milonga é uma de suas características singulares.

Ela divide um compasso simples (4/4 ou 2/4) em três acentuações. Utilizando como unidade a colcheia no compasso 4/4 e a semicolcheia no compasso 2/4. Essa divisão pode ser representada por um esquema número: 3+3+2.
Letras e temáticas

A Milonga é um canal de expressão natural do cancioneiro na região sul da América Latina.

Suas letras tem alguns aspectos gerais:

Suas letras são muitas vezes escritas em forma de narrativa. Cheias de imagem poéticas e relações com a vida do campo (no caso da Milonga rural). 

As letras têm sempre um ar bucólico, muitas vezes introspectivo, tratam da vida do homem dos pampas, seus amores, sua ligação com o modo de vida e simplicidade do campo.

A Milonga também deu espaço ao discurso político como com o compositor argentino Atahualpa Yapunqui. No Rio Grande do Sul, com a canção Semeadura de Vitor Ramil e Carlos Moscardini. Contudo, em momentos bastante pontuais.

Dois grandes poetas e compositores do gênero são César Passarinho e Airton Pimentel.

Guri - Cesar Passarinho (link video)


Das roupas velhas do pai queria que a mãe fizesse

Uma mala de garupa e uma bombacha e me desse


Queria boinas e alpargatas e um cachorro companheiro

Pra me ajudar a botar as vacas no meu petiço sogueiro


Hei de ter uma tabuada e o meu livro "Queres Ler"

Vou aprender a fazer contas e algum bilhete escrever

Pra que a filha do seu Bento saiba que ela é meu bem querer

E se não for por escrito eu não me animo a dizer… (trecho de Guri de César Passarinho)

Obs. A Milonga também tem seu lado instrumental com músicos como Jorge Cardoso e Renato Borghetti.
Ouça:
Mais referências


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