terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Edson Zampronha – Sensibile [2006]

É bom esta de volta à escrita, por causa de um probleminha ali; um compromisso aqui; Fiquei afastado do blog. Admito esta um tanto quanto enferrujado, mas ao voltar a escrever, resolvi assumi um desafio, escrever sobre a música desde reconhecido compositor brasileiro, Edson Zampronha.

Para quem não conhece, ele foi duas vezes Premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte, além de ter recebido o Prêmio Sérgio Motta [2005] – para os desavisados este é o principal prêmio em artes e tecnologia do País – , além disso é compositor convidado de importantes centros como o LIEM-CDMC [Madri] e a Universidade de Birmingham, e ainda arranja um tempinho para ser professor de composição da Universidade do Estado de São Paulo e professor convidado em diferentes universidades no exterior [a estas alturas ele deve esta na Espanha].

Admito que um dos motivos na demora desta resenha foi por causa do meu próprio receio em escrevê-la [rsrsr]. Passei um bom tempo procurando um ângulo por onde iniciar a abordagem deste trabalho. Bom, eu já tinha uma pista dada pelo próprio autor, mas me faltava o mote. Ele veio em um conversa frugal onde um colega de trabalho que escutava em seu mp3 player algumas obras do período clássico exclamou: sabe o que falta nos compositores de hoje é esta simplicidade sensível. Fiquei admirado com o comentário por três motivos: 1. a observação aguda de um problema estético/sensível; 2. pela forma que foi colocada, simples, rápida e concisa; 3. por este meu colega não ser musico e sim o melômano sadio. Sim, esta foi minha porta de entrada na escrita deste texto.

As composições desde álbum são todas para piano [e também temos elementos eletros-acústicos]. O compositor parte de materiais muito singelos como uma escala modal ou um conjunto de acordes simples e num processo de modificação da sonoridade, por meio da mudança de estruturas rítmicas e timbres; o compositor vai concedendo a estes materiais novos significados. Ou em suas palavras:

“...o ouvinte é levado a escutar de maneira diferente aquilo que havia escutado antes. Há uma ’persuasão’ da escuta. Uma persuasão que re-significa e que, justamente porque leva o ouvinte a entender diferentemente o que havia escutado antes, abre as portas da sensibilidade”.

Para mim o ponto de equilíbrio de todo este trabalho é: uma escuta “ativa” que ao invés de investigar, apenas captura as informações cedidas pela música e depois passa a apreciar seus novos contornos ao logo da obra. Isso lembra alguma coisa? Sim, uma sonata clássica é apreciada da mesma forma. E quanto mais simples e inteligível é seu ponto de partida, mas agradável e interessante é sua re-significação. E por sua vez seu conteúdo sensível é apreciável.

Bom, vamos por as mãos na massa. Confesso que não foi fácil “eleger” uma ou duas peças para comentar. Por entender que todas são historias diferentes dentro de uma mesma compilação, histórias que mereceriam ser ouvidas, mas tive de escolher, e escolhi, e a eleita foi: Fragmentos Reduzidos de Uma História Muito Longa.

O titulo de Fragmentos Reduzidos de Uma História Muito Longa é uma grande pista sobre o que nos espera ao longo da música. O titulo nos remete ao imagético; ao caráter de rapsódia fantasiosa, leve e distante. Esta música – numa visão mais pessoal e subjetiva – remete as lembranças daquelas paisagens que observamos durante viagens longas, que quando requisitadas pela memória retornam como Fragmentos Reduzidos com pouca ordem cronológica ou geográfica, mas que são para nós tão agradáveis e sensíveis.

Aqui vou listar alguns aspectos que consegui destacar na escuta:

A obra [ao menos para minha escuta] dividisse em cinco seções, estas seções têm seus limites bem delineados por silêncios [ou lapsos].

Cada parte é composta por um ou mais gestos musicais com características e tonos parecidos ou diversos, estes gestos se relacionam dentro de uma articulação muito clara e direta, fazendo com que o ouvinte seja guiado dentro da História que esta sendo contada.

Esta articulação não só se limita à parte interna de cada seção, pois estas também se articulam entre si.

Temos dois tipos de articulação bem claros [bem, foi as que conseguir identificar na escuta, se houverem outras, por favor, digam!..rs], sendo a primeira por complementação e por oposição. Na primeira cada seção ou gesto detém aspectos que os relacionam aparentados, estes aspectos podem ser os elementos de rítmico; melodia ou simplesmente o caráter mais movimentado ou lento. O segundo por eliminação identifica as articulam entre seções de elementos e caráter diverso.

Em três [seção 2 – 1’00” à 1’40”; seção 4 – 3’12” à 3’42” e seção 5 – 3’45” à 5’15”] das cinco seções da peça temos apenas um tipo de gesto que é re-elaborado pelo compositor. Um bom exemplo é a seção 5 onde o compositor inicia com uma melodia lenta e pianíssimo [de pouco volume] e vais inserindo a esta melodia acordes dissonantes e a utilização do pedal do piano para criar ressonância.

Já nas outras duas seções [ao meu ver] temos mais de um gesto, nas seções 2 [00” à 55”] e a seção 3 [1’44” à 3’10”]. Na seção 1 temos três gestos que apresentam características próximas, ou seja, todos são movimentos ligeiros de forte movimento e acento rítmico, contudo apresentam configurações diferentes. Já na seção 3 temos três gestos cada uma com configurações e características diferentes o primeiro se aproxima dos gestos da seção 1 [ligeiros e rítmicos], contudo de tonos mais jocoso que ao final se desdobra num segundo gesto mais dramático com acordes dissonantes e abertura para o registro grave, após um serie de trinados ele se encerra dos um arpejo. O terceiro gesto se caracteriza pelo formato minimalista onde temos uma formula rítmica é utilizada tento em seu interior variações e adições de elementos melódicos.

Admito que este álbum mereça de minha parte muito mais atenção [e um texto muito mais interessante também!!]. Por outro lado acredito também que a atenção que a música merece é a atenção do público, a atenção da sensibilidade da escuta. E este álbum merece esta atenção.

Onde encontra Edson Zampronha:

http://www.zampronha.com/PaginaBR_Publications.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Edson_Zampronha

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