domingo, 2 de abril de 2017

Rapidinhas: Milonga

Organizado por Marcello Ferreira Soares Junior

Estou postando uma série rápida de anotações sobre gêneros folclóricos brasileiros. Não são "estudos", só anotações rápidas. O objetivo é auxiliar um pesquisa rápida. Se alguém tive informações interessantes colabore nos comentários! Valeu!!


O termo Milonga vêm do dialeto Quimbanda (originário de Angola) e significa Palavra. Na região da bacia do Rio da Prata, o termo Milonga batizou o gênero musical muito particular da região. Inicialmente, o termo era usado da designar as danças entre casais (danças de origem afro ou europeias). A Milonga canção se desenvolve com os “payadores” que eram um mistura de músicos, poetas e contadores de histórias itinerantes (muitos deles ex-escravos).
Hoje a Milonga assume várias formas (canção, instrumental, música dançante) e é associada músicos de diferentes vertentes e gerações como: Atahualpa Yapunqui (Arg); Jorge Drexler (Uru), além dos gaúchos César Passarinho, Airton Pimentel e Vitor Ramil.
A origem da milonga (milonga campera) não é seguramente conhecida. Acredita-se, que a Milonga contenha tantos elementos da cultura Afro-americana (Candoblé, por causa de sua constituição rítmica), quanto de danças europeias Habanera (Espanha) e Quadrilha (portuguesa e francesa) que chegaram à  Buenos Aires e Montevidéu através, principalmente, Peru, Espanha, Brasil e Cuba.

Os elementos musicais compartilhados entre a África e Europa passaram por transformações e adaptações em cada região por onde passaram no continente americano. Isso resulta numa infinidade de variações e alguns semelhanças da Milonga com outros ritmos, como Chamarrita. O próprio Tango (gênero musical símbolo da Argentina) surge como um subgênero da Milonga.
A Milonga se popularizou no sul do Brasil no período da Guerra do Paraguai, com a formação do Grande Exército (formado por tropas argentinas, uruguaias e brasileiras). Os brasileiros tiveram contato com esse gênero já bastante difundido nos países vizinhos de língua espanhola.

Alguns pesquisadores (principalmente porteños e uruguaios) dividem a Milonga (à grosso modo) em duas categorias básicas:

Campera, pampeana ou surera (sureña) que é a folclórica “tradicional”. 


Ciudadana ou sentimental que surgiu no anos 30 na Argentina e foi muito difundida pelo músico e compositor argentino Sebástian Piana. A Milonga Ciudadana ou sentimental era uma versão estilizada da Milonga Campera. 


Outras variantes:

Milongón - surgiu e se desenvolveu pelos compositores negros de Montevidéu (Uruguai).

Chorrillera (ou chorrillero) - Música folclórica da província de Santa Cruz (Argentina). Mistura a Milonga com o Kaani (dança e música argentina com influências indígenas).
Detalhes técnicos.
A divisão rítmica da milonga é uma de suas características singulares.
Para entender sua divisão, vamos observar um compasso simples (4/4 ou 2/4) em três acentuações. Utilizando como unidade a colcheia no compasso 4/4 e a semicolcheia no compasso 2/4. Essa divisão pode ser representada por um esquema número: 3+3+2.
Dedilhando muito utilizado na Milonga.





















Letras

A Milonga é um canal de expressão natural do cancioneiro na região sul da América Latina.
Suas letras apresentam alguns aspectos gerais:
As letras são muitas vezes são escritas em forma de narrativa. Cheias de imagem poéticas e relações com a vida do campo. Apresentam em muitos casos sempre uma atmosfera bucólica e introspectiva. Tratam da vida do homem dos pampas, seus amores, sua ligação com o modo de vida e a simplicidade do campo.
Exemplo: A Bela canção Guri de Cesar Passarinho.
Das roupas velhas do pai queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa e uma bombacha e me desse

Queria boinas e alpargatas e um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas no meu petiço sogueiro

Hei de ter uma tabuada e o meu livro "Queres Ler"
Vou aprender a fazer contas e algum bilhete escrever
Pra que a filha do seu Bento saiba que ela é meu bem querer
E se não for por escrito eu não me animo a dizer… (trecho de Guri de César Passarinho)

Dois grandes poetas e compositores do gênero no Brasil são César Passarinho e Aírton Pimentel.
A Milonga também deu espaço ao discurso político com compositores como o argentino Atahualpa Yapunqui. E no Rio Grande do Sul, com a canção Semeadura de Vitor Ramil e Carlos Moscardini. Contudo, em momentos bastante pontuais. Compositores como Vitor Ramil e Jorge Draxler procuram dá uma roupagem mais contemporânea ao gênero musical tanto na construção temática das letras como em experimentos formais de estrutura musical. Outro exemplo notável dessa releitura da milonga é o compositor e músico Oly Jr e sua milonga blues.
A Milonga também tem seu lado instrumental com músicos como Jorge Cardoso e Renato Borghetti.




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