quarta-feira, 25 de março de 2020

Tópicos de teoria musical: textura.

                                                                                                                Por Marcello Ferreira Soares Junior

O conceito de textura em música (em linhas gerais) é a forma na qual os elementos melódicos (solo, dobras, contraponto), rítmicos (polirrítmica) e harmônicos (Acordes, ostinatos, baixo de Alberti) são combinados em um trecho ou ao longo de uma composição musical.

Podemos dize que a textura musical pode dentro de uma obra: demarca diferentes seções dentro da forma musical; cumpri funções estruturais e/ou sugerir impressões extra-musicais ao ouvinte.

Exemplos:

➤ A textura como demarcador entre diferentes seções de uma peça. 

Fig. 1 - Mussorgsky - Gnomus de Quadros de Uma Exposição.


➤ A textura com características densas ou rarefeitas tem efeitos estéticos diversos.

Fig. 2 - Debussy - Nuages
A sensação de leveza etérea de Nuages de Debussy.

Fig. 3 - Wagner - Cavalgada Das Valquírias abertura II ato.
A força épica da Cavalgadas das Valquírias de Wagner.

➤ A textura também pode servir para descrever aspectos como densidade e extensão da tessitura.

Fig. 4. Holst - Suíte Os Planetas (Jupiter).
Observamos no trecho extraído da Suíte Planetas de  Holst uma passagem onde um trecho de textura densa (um quase total Tutti da orquestra) e de tessitura (agudo ao grave) muito ampla transita em direção de outro trecho de densidade e tessitura reduzida. 

As texturas podem apresentar diversas características:

Podem ser ágeis e cheias de movimento (fig. 5a) ou quase estáticos (fig. 5b) e completamente estáticos (fig. 5c) como podemos ver nos exemplos abaixo:

Fig. 5a - Holst - Suíte Os Planetas (Mércurio) 
Fig. 5b - H. Brian - Sinfonia nº. 1 (Gótica)

Fig. 5c - Debussy - Jeux de Vagues

É muito comum a utilização diversos termos para descrever a textura. Muitas vezes alguns certeiros e outros muito vagos. Diversos autores em livros de analise ou orquestração fazem uso de um repertório imenso de termos para analisar as texturas. Dessa forma é sempre bom não entrar em pânico quando um determinado autor usa um termo diferente para designar algo que você utiliza outro. Como muita coisa dentro da teoria musical não temos termos universais. 

Tipos de textura

Podemos apresentar quatro tipos mais comuns de texturas musicais:

 Monofônica: é a mais simples e consiste numa única linha melodia. Em alguns casos essa linha melodia pode ser dobrada num intervalo de oitava. Muito comum na música sacra medieval e em algumas manifestações folclóricas.

Fig. 6  - Veni Creator Spiritus
No exemplo temos um trecho do cantochão Veni Creator Spiritus onde observamos apenas uma linha melodia onde o ritmo é regido pela métrica da palavra falada.

➤ Polifonia: consiste em duas ou mais linhas melódicas independentes que estão inter-relacionadas por aspectos harmônicos e intervalares. Essas linhas podem ser similares ou contrastantes. Esse tipo de textura é comum nas peças polifônicas de um extenso período que vai dos compositores da Escola de Notre Dame até J.S.Bach e contemporâneos. Temos nessa categoria: o contraponto entre vozes (fig. 7); a imitação (fig. 8) e a fuga (fig. 9).

Fig. 7 - Palestrina - Missa Papa Marcellus
Fig. 8  - Josquin Desprez - Absalom, Fili MI.
Fig. 9 - J. S. Bach - Fuga em Sol menor BWV 578

Homofonia: consiste em uma melodia acompanhada por algum apoio harmônico. Esse é o tipo de textura mais comum na música do período clássico até os dias atuais.
O acompanhamento pode ser utilizado de forma similar por toda a peça ou variar. Em alguns casos diferentes formas de acompanhamento podem ser sobre postos.

Homorritmo: Quando todas a vozes apresentam a mesma distribuição rítmica. Esse tipo de textura também é conhecido como: Estilo coral; Homofônica de acordes; textura cordal.
 Homofonia: em uma melodia acompanhada por algum tipo apoio harmônico. Esse tipo de textura pode ser encontrada em diferentes composições de diferentes períodos. Contudo, passou a ser uma prática comum do período de forma ampla no período clássico até a música popular atual tanto na música instrumental quanto na canção. Temos exemplos de acompanhamentos como baixo de Alberti (fig. 10) na clave de Fá a partir do compasso 4; Acordes tocados em bloco (fig. 11); Ostinatos e nota pedal (fig. 12); e um acompanhamento que mistura varias formas nas cordas que acompanham a melodia do violino 1 (fig. 13). 

Fig.  - Mozart -Sonata nº. 1 para Piano K279. 
Fig.  - Mozart - Concerto para Violino K216.
Fig.  - F. Schubert - Ständchen
Fig.  - Wagner - Idílio para Siegfried

 Homorritmica: quando todas as vozes apresentam a mesma distribuição rítmica. Esse tipo de textura também é chamado de estilo hino, homofonia de de acordes, textura cordal.  è importante lembrar que muito dificilmente encontraremos uma obra que seja construída especificamente sobre esse tipo de textura.

Fig.  - Debussy - Nuages

Fig.  - Holst - Suíte Os Planetas (Marte)
Bem, pessoal o estudo focado na textura (assim como no timbre) é algo relativamente recente (tens uns 50 anos..rsrs). Para se ter uma ideia poucos livros de teoria musical (ao menos em língua publicados no Brasil) apresentam um enfoque mais profundo nessa matéria (se vocês conhecem algum! Por favor, indiquem!). Esse tema é mais comum em livros sobre orquestração ou de analise assuntos ou obras especificas.

Como sempre digo o texto acima é só uma mera introdução e um recorte desse imenso campo do estudo da música. 

Divirtam-se!

Até a próxima.  

Referências:
Bruce Benward, Marilyn Saker - Music in Theory and Practice 8th Edition.
Cope David -Techniques of the Contemporary Composer.
Harvard Dictionary of Music.
Imogen Holst - ABC da Música.
Roy Bennet - Elementos Básicos da Música
Samuel Adler - The Study of Orchestration.
Walter Piston - Orchestration.
Minha dissertação de mestrado.
(Ps: não estou nem ferrando para ABNT!)

Nenhum comentário:

Harmonia Modal 2: Os acordes por Quartas

  Por Marcello Ferreira Soares Jr Oi pessoal, antes de começar sugiro ao leitor que leia o artigo anterior sobre Harmonia Modal ( LINK ). A ...