quinta-feira, 10 de abril de 2014

Richard Wagner e o Leitmotiv




Organizado por Marcello Ferreira Soares Junior
Redução para Piano do préludio Gravação do prelúdio
Partituras


  1. Introdução.


Durante o Romantismo na Música, talvez Wagner tenha se tornado a figura mais cultuada (e combatida).  Sua obra foi de imensa influência nas artes de sua época e os períodos que se seguiriam. Foram provavelmente umas das personagens que mais somaram em termos intelectuais e em controvérsias na sociedade do final do Séc.XIX.

Neste texto, tentaremos demostrar como e porque, Wagner fez uso do Leitmotiv como elemento chave na construção de uma nova linguagem dramática na música Européia, para isso discursaremos brevemente (sem muito nos aprofundarmos) sobre as idéias estéticas e musicais de Wagner, para isso faremos uma rápida biografia da vida e de sua formação, além de nos atermos a uma introdução da idéia do que seja o Leitmotiv,  usaremos como objeto de observação e estudo a música do Prelúdio ao 1º Ato de “Tristão e Isolda”(1859), uma das obras mais significativas do compositor.


2. Rápida Biografia.


Richard Wagner (1813 – 1883) 

·         Infância e Juventude – 1813 à 1830.
 
Nascido na cidade de Leipzig à nordeste da Alemanha, filho de um funcionário publico, Wagner teve seus primeiros contatos com a arte em casa, seu pai era admirador da literatura, e após a morte deste sua mãe contraiu núpcias com um poeta e escritor, de sua irmãs mais velhas veio a admiração pelo teatro e o culto a seu grande ídolo Shakespeare, sua educação baseou-se em profundos estudos do teatro, literatura e política, já seus estudos de musica iniciara-se só na juventude, como um autodidata(apesar de sabermos hoje que ele assistiu aulas de harmonia, contraponto e orquestração na universidade de Leipzig, como aluno ouvinte), é interessante observar que como Berlioz, Wagner não demostrou interesse ou aplicação no aprendizado de um instrumento(apesar de Berlioz ter curiosamente se formado em violão pelo conservatório de Paris), mas por outro lado demostrou uma grande inteligência ‘musical’ ao realizar uma redução da Nona Sinfonia de Beethoven, foi também com Beethoven que Wagner reconheceu sua vocação para a musica dramática, após assistir “Fidelio”. Nos primeiros anos da década de 30, consegue emprego como regente de pequenos teatros e escreve suas primeiras operas “As Fadas” e “A Proibição de Amar”, estas escritas em estilo tipicamente italiano.      

·         Décadas de 40 e 50.

Vai para Paris tentar o sucesso, chega a conhecer Berlioz, por quem é influenciado por suas orquestrações de grandes proporções e geniais efeitos. Wagner chega a montar a sua Opera “Rienzi”, mas não obtém sucesso, para sobreviver escreve artigos e criticas musicais para jornais parisienses. Volta para a Alemanha e escreve o “Holandês Voador” e obtém sucesso,  e passar a ser regente em Dresden, nos anos seguintes escreve “Tanhaüser”(1845) e “Lohegrin”(1848), que mantém o sucesso do compositor. Envolve-se na ‘revolução de 1849’ e ver-se obrigado a deixar a Alemanha, vai morar na Suíça,  sub os auspícios de um admirador; um banqueiro suíço chamado Von Wesendonk  e sua esposa. Na Suíça passa dez anos, neste período começa na sua tetralogia “O Anel dos Nibelungos”(1850-74), além de escrever textos e ensaios políticos e estéticos, com estes abrindo o terreno para suas propostas de reformulação da musica dramática, e lançando seus conceitos sobre a obra de Arte Total, neste ínterim, o compositor conclui as duas primeiras operas do ciclo do Anel , são elas “O Ouro do Reno” e “As Walquirias”, Wagner chega iniciar a terceira opera do ciclo “Siegfried”, mas a abandona temporariamente após a conclusão do segundo ato, para se dedicar a “Tristão e Isolda”.


·         Década de 60.

Com a ajuda e o patrocínio do Rei Luis da Bavária, conclui “Siegfried”(1869), e inicia e termina a ultima opera do ciclo do Anel, “O Crepúsculo dos Deuses”(1874), Além disso neste período iniciar seu relacionamento com Cosima Von Bülow, filha de Liszt, como quem mais tarde casa de tem duas filhas e um filho.


  • Década de 70 e 80.

Dedica-se a fundação de seu teatro de operas em Bayreuter, e estreia na integra a sua tetralogia do Anel em 1876, torna-se o artista mais famoso de sua época, mas atrai a inimizade de Hanslick e a incompreensão de Brahms, além da ruptura como seu amigo e admirador Nietzche. O casamento como Cosima trouxe também a insatisfação de seu patrocinador o Rei Luis da Bavária. Em meados da década de 80, Wagner passa a viajar de maneira constante a Itália, onde chaga a falece em Veneza em 1883, levando consigo a idéia de escrever sinfonias de um só movimento comas técnicas desenvolvidas em suas operas.


3. Estética e Reforma.


3.1. Estética.

As idéias de Wagner sobre a criação do drama musical partem do conceito Romântico da unificação de todas as artes, em busca de uma expressão completa. Este Ideal Romântico sub o ‘patrocínio’ da musica já se encontra em Weber, na sua aspiração de criar um melodrama tipicamente alemão, esta obra teria de configurar como a total unificação da poesia e da musica.  

A partir deste ‘mote’, Wagner elege o Drama, como a única arte capaz de unificar todas as demais1(teatro, dança, musica, poesia), para o compositor o Drama não é um gênero musical ou literário apenas, e sim, um  tipo de arte que pode  viver junto as demais e coordena-las, a única arte completa e possível, capaz de restaurar a comunicabilidade entre todas as demais. O Drama em seu interior tem (de acordo com Wagner) condições  de aglutinar a arte em suas formas de comunicação objetiva ou figurativa (Apolínea*) e subjetiva ou abstrata (Dionisica*2), aqui podemos representa-las como a poesia e o teatro, como objetiva, e a musica como puramente abstrata respectivamente. Wagner coloca que a musica não é auto-suficiente, pois apesar do seu poder de sugestão quase imediata, esta é incapaz de relacionar a estas a uma individualidade, assim a musica ativa em primeiro momento o emocional, para si possível depois ser relacionada a uma idéia no plano intelectual, já a poesia como arte objetiva, percorre o caminho contrario, ela designa o sujeito e o relaciona racionalmente, para assim depois chegar ao plano emocional, cada uma tem sua forma distinta de comunicação, mas para Wagner estas sozinhas não seriam capazes de uma expressão total, só unidas dentro do universo do Drama estas poderiam alcança e potencializar suas intenções de comunicação de forma plena. Para justificar suas idéias o compositor assim escreveu em seu “Drama e Opera”(1851), “...todo o organismo musical é feminino por sua natureza; este tem a faculdade de conceber, mas não de procriar; a força produtiva reside fora de si, e esta sem ser fecundada por esta força, não esta apta a dar a luz a uma coisa concebida”, a força ‘masculina’ capaz de procriar, pois segundo Wagner, é a palavra ou a poesia.

Grosso modo, temos aqui a idéia que move todo o pensamento wagneriano, este dirigido a criação de sua ‘Obra de Arte Total’, apesar da penetração das suas idéias o pensamento estético de Wagner, não apresenta grande originalidade, seu grande mérito repousa no fato de ter sabido reconhecer os temas mais difundidos da cultura romântica, e tê-los direcionado3, mesmo assim foi capaz de formular suas teorias e assim lançar as bases de sua “reformas” na musica dramática’.

3.2 – Reforma.

O ponto de partida para a reforma da musica dramática por Wagner, reside em dois pontos principais. Primeiro, na sua critica a musica das operas de então, onde o libretto era apenas uma simples desculpa para a música, e a musica muitas vezes servia apenas como pano de fundo para demonstrações virtuosisticas dos cantores (critica também feita por Gluck), sem qualquer preocupação no desenvolvimento do enredo, a opera era mera diversão. Wagner cultivava a idéia de Schiller, a qual o teatro deveria ser um local de engrandecimento do espirito e do intelecto do homem. Outro ponto seria o intento de criar uma musica dramática de cunho alemão, esta baseada num idioma sinfônico (uma tradição musical germânica.), a partir daí Wagner iniciou os planos de sua ‘reforma’. Durante  seu ‘exílio’ na Suíça, concluiu que suas idéias deveriam ser fundamentadas e expostas ao publico e aos músicos, além de prepara-los e educa-los para sua “nova musica”, assim além de publica um compêndio de seus ensaios sobre suas teorias iniciou a aplicação das mesmas em suas composições.

Munido de suas idéias estéticas e formais, Wagner operou uma transformação na forma estrutural da opera de então, isso para adequa-la a suas intenções de criar um Drama Musical que organicamente mantive-se sua unidade como numa musica sinfônica. Em termos formais sua principal modificação esta no fato de Wagner dentro da opera abolir quase totalmente a tradicional divisão de Arias e Recitativos, ele criou uma “malha -musical” onde o enredo é ‘bordado’ por uma serie de ‘tramas’ que surgem  tanto nas partes das vozes como também na parte da orquestra, Wagner desejava fazer de toda a musica uma melodia infinita, apesar disso os elementos da ‘Grand Opera  não desapareceram completamente, mas estes são absorvidos e surgem de maneira tênue dentro das obras do compositor, como por exemplo, o duo de amor de Tristão e Isolda.

É interessante observar que Wagner não criou este tipo de ‘participação’ direta de musica no desenrolar de um  enredo, ele intensificou esta participação e a levou ao extremo, ao ponto de em dados momentos a musica passa a ser o fio condutor do enredo, mesmo sem haver ação no palco. Ela passa ao publica deste de intenções, emoções, movimento do tempo dentro do drama (dia, noite) e ate a condição da natureza (tempestade, calmaria), Wagner coloca a musica como personagem ativo, ou então como uma “bula” para as intenções, sentimentos e ações de outros personagens.

Suas reformas estruturais não foram apenas de cunho direto na matéria musical, é sabido que além de compositor Wagner escrevia seus próprios librettos, fazia os desenhos do palco, além da ter construído um teatro sub suas especificações, onde colocou um fosso que oculta a orquestra do publico, este recurso tinha como objetivo, não desviar a atenção do publico em relação ao palco, mas além disso, principalmente dar a musica um onipresença desvinculada da imagem dos músicos, esta passa a incorporar o dentro de si o universo dramático.    

Uma vez mais é importante observar que muitos dos elementos usados por Wagner em sua reforma estrutural da opera, já existiam, nas obras de vários compositores (de forma fragmentada), mas como fez em relação ao pensamento romântico, no campo da musica, Wagner soube lançar mão dos recursos existentes de dirigi-los dentro de suas intenções.


4. Leitmotiv.


Para levar a frente seu intento de reformular a linguagem dramática na musica, dando a esta uma estrutura orgânica e unitária aos moldes da musica sinfônica, além disso, impor a condição em que todos os elementos musicais (ou partes deles), participassem de forma ativa ao desenrolar do enredo, Wagner lançou mão de uma técnica já bastante conhecida em sua época, o leitmotiv   ou  grundthema* como o compositor preferia se referir a este. O termo leitmotiv foi cunhado por F.W. Jähns4, a origem do leitmotiv esta ligada a varias fontes, sua principal fonte esta na variação ou aprimoramento do ‘motivo de reminicêcia’, que remota a Opera Comique francesa de Lemoyne, Méhul e Cherubini, no séc. XVIII, esta técnica  consiste na repetição discreta ou não de numa frase ou ate de numa seção inteira de uma idéia musical ou número formal encontrado em outro ponto da obra, esta idéia caracterizava uma situação vivida por determinado personagem que era sempre lembrada (reminicêcia5 ). Outra influencia  foi a ideé fixe** de Berlioz. Porém o grande influenciador de Wagner na forma do uso do leimotiv foi Weber, esta influência encontra-se principalmente no uso de acordes não tonais, para designar personagens, é o caso do ‘acorde Samiel’ no ‘Der Freischütz’ de Weber, que guarda semelhança como o ‘acorde Tristão’ de Wagner.

O conceito básico do leitmotiv é o de uma fragmento melódico, de extensão variada, que é associado a um personagem, idéia, sentimento ou objeto dentro da ação dramática, o leitmotiv também pode configurar como um acorde em especial, uma determinada instrumentação ou uma célula rítmica, outra característica do leitmotiv largamente utilizada por Wagner, é sua flexibilidade, pois este deve ser passível do mesmo tratamento dispensado aos motivos na musica sinfônica, ele também pode ser utilizado em conjunto com outros leitmotiv para sugerir novas situações dramática.

Em nível de informação, antes de determinar este capitulo, vejo necessário lembrar(ou relembrar), que o uso do leitmotiv feito por Wagner foi um dos vários pontos de partida para dissolução do sistema tonal, que terá seu extremo com Schoenberg. Pois graças a sua natureza cromática em Wagner em particular em Tristão, o leitmotiv criou a partir de suas combinações e fusões uma ambigüidade tonal, esta reforça por mudanças bruscas das alturas e adição de acordes não tonais, esta instabilidade ajudou no afrouxamento das formas fechadas  fundamentadas no sistema tonal.                        


5. Leitmotiv por Wagner.


O leitmotiv wagneriano tem como características marcantes seu cromatismo, este é sua grande identidade em relação musica romântica, esta que mergulhada nestes cromatismos  procurava alcança uma maior intensidade expressiva.

A idéia do uso do leitmotiv feito por Wagner teve sua inspiração na literatura, mas particularmente na aliteração poética da língua alemã, o stabreim+, ele encontrou na idéia de transpor os princípios do stabreim a possibilidade de fazer a musica instrumental participar de maneira efetiva do enredo de seus dramas musicais.

A aliteração poética consiste na repetição de uma mesma silaba ou fonema dentro de um verso ou uma estrofe, dentro desta repetição podemos encontrar uma “harmonia sugestiva”, esta que são fonemas que se configuram mais adequados que outros para evocar sentimentos e idéias, vejamos como exemplo um trecho do poema “Violões que Choram” do poeta simbolista Brasileiro Cruz e Sousa6 , “Vozes Veladas, Veludosas Vozes; Volúpias                                dos Violões, Vozes Veladas; Vagam Velhos Vórtices Velozes; Dos Ventos, Vivas, Vãs, Vulcanizadas.”*, na teoria da literatura portuguesa7 , a letra (V) tem a propriedade de emitir a idéia de vibração, o poeta faz uso desta para fazer presente de forma sugestiva a imagem do instrumento(na vibração de suas cordas) que é homenageado no poema, a procura da palavra ‘certa’para expressar musicalmente integrada à emoção que se deseja expressar, é bem provável que Wagner tenha se servido desta ‘regra’ da teoria literária para aplica em seus motivos dando a eles a possibilidade de participar ativamente da ação na trama, dando movimento ao drama independente que haja ação ou não no palco, pois as idéias e ações sugeridas por estes motivo tem em Wagner o mesmo valor do texto cantado.

Apoiado nesta forma de aplicação dos motivos, Wagner também faz uso dos tratamentos sinfônicos, sobre estes motivos, para dar a estes novas cores e dá-lhes interesse.


6. Objeto de observação: “Prelúdio ao 1º de Tristão e Isolda”.


6.1 – Introdução.

Esta peça que serve como prelúdio ao 1º ato de “Tristão e Isolda” será  nosso objeto de observação da utilização das idéias e conceitos apresentados ao longo de nosso texto em relação a musica puramente instrumental, teremos como referencia para nossa apreciação, além da analise feita pelo autor deste texto, notas e observações feitas por Alfred Lorenz e Arnold Schoenberg8 serão utilizadas, estas que serão de imensa ajuda na compreensão do texto musical.

6.2 – Histórico.

Os primeiros escritos e esquemas sobre Tristão datam de dezembro de 1856,  época em que Wagner encontrava-se na Suíça, neste período de exílio, o compositor escreve uma serie de textos teóricos e ensaios estéticos, para expor diante de músicos e ao público sua idéias, além de escrever e coma a compor sua mais conhecida obra, a tetralogia O Anel dos Ninbelongus, com o  O Ouro do Reno” e em seguida “As Valquirias”, quando ainda estava no inicio da terceira parte de sua grandiosa empreitada, a opera “Siegfried”, Wagner suspende os trabalhos nesta obra, para dedica-se exclusivamente a composição de “Tristão e Isolda”, talvez por necessidade de ‘testar’ e elaborar suas idéias musicais e dramáticas, pois nesta obra  como em nenhuma outra Wagner aplica sua linguagem ao limite.

Passaram-se praticamente quatro anos, para que a obra ficasse pronta, de seus primeiros esboços no ano de 1856 até a edição final em 1860,  método de composição de Wagner pode se visto como um sistema horizontal e gradativo, pois ele monta a musica por partes, nunca compõem dois atos ao mesmo tempo, enquanto o primeiro não estive terminado não inicia a composição do segundo, abaixo temos um cronograma9, mostrando o caminho percorrido na composição de Tristão.


                                                      Tabela Cronológica10 


Zurique

1856                    Dec. 19                                     primeiros manuscritos e esquemas.

1857                    Ago. 20 – Set. 18                     cenários e Poemas.

                             Ato I                                       prelúdio e cenas 1 –4.

                            Out. 1 – 31                               rascunhos preliminares.
                         
                            Nov. 5 – Dec. 1                       desenvolvimento dos rascunhos.  

                            Nov. 30                                    Der Engel

                            Dec. 4/5                                    Träume

                                     8 – 31                              rascunhos preliminares, cena 5.

                             Dec. 17                                   Schemerzen

                             Dec. 18                                   versão instrumental de Träume.


1858

                             Jan. 4 –13                               desenvolvimento de cena 5.
  
                             Fev.  22                                   Stehe still!

                             Abr. 3                                      Termino da partitura.

                             Maio. 1                                    Im Treibhaus

                              Ato II

                             Maio. 4 - 31
                             e Jun. (26?) – Jul. 1                rascunhos preliminares.

                             Jul.  5                                      desenvolvimento dos rascunhos.
                           


Venice

1859

                           Out. 15 de 1858 à
                           Mar. 9 de 1859                         desenvolvimento dos rascunhos
                                                                             resumidos e completados.
                            
                           Mar. 18                                     Termino da partitura.


Lucerna

                            Ato III

                           Abr. 9 – 30                                rascunhos preliminares.

                           Maio. 1 – 8                               desenvolvimento dos rascunhos(comp.713)
    
                           Maio. 9 – 16                              rascunhos preliminares.
                         
                           Maio. 17  – Jun. 5                     desenvolvimento dos rascunhos(comp.840)

                           Jun. 19 – Jul. 16                        rascunhos preliminares

                           Jul. 19                                      desenvolvimento dos rascunhos completado.

                           Ago. 6                                       Termino da partitura.

Paris

1860

                            inicio de Janeiro                         Publicação da Partitura.
 
6.3 – Leitmotiv na Ação Dramática do prelúdio.


Os Leitmotiv, neste prelúdio a trama se inicia através da apresentação dos motivos, através  deles teremos o primeiro contato como o drama de  amor e morte, que envolve o cavaleiro Tristão sobrinho do Rei da Cornualha e a jovem dama irlandesa Isolda, prometida ao Rei. Wagner faz com que o leitmotiv impulsione a estória e apresentem de forma sugestiva os personagens e os sentimentos e conflitos vividos por estes.

A musica inicia-se com a evocação do Desejo(a)11  =(anacrusa e 1º comp.) de Isolda(b) (comp.2 e 3) em realizar seu amor por Tristão, no entanto o Destino(c) (comp.2 e 3) desta paixão já esta delineado, este destino também guarda o Mistério(d) (comp. 10) no futuro destes jovens, Isolda pressente a presença de seu ‘algoz/amado’, e lança sobre ele um Olha(e) (comp.16), neste momento lança mão da Porção do Amor(f) (comp. 25) esta contaminas os dois e faz com que Tristão rompa com seus receios de realizar também sua paixão secreta por Isolda, a despeito dela estar prometida do seu tio e rei. Mas  mesmo que a porção do amor  irrompe as barreiras que separam os amantes, ao mesmo tempo os condena, e esta porção toma a forma de uma Porção da Morte(g) (comp. 28), no entanto, estão unidos Tristão e Isolda(h)(comp. 36) na promessa  de Amor/Morte,  todos os sentimentos de realização e medo potencializados pelo efeito porção levam ao sentimento de Anseio dos Amantes(i)(comp. 63), esta ânsia inflama os dois jovens, que caem num vórtice, onde todos os sentimentos e fatos se repetem de forma difusa e delirante, longo os gestos voltam a ser comedidos, mas só que neste momento mais presentes e intensos, ao final desta ação retorna o único elemento que sempre irá permear toda a estória, o Destino de Amor/Morte de Tristão e Isolda*. 

6.4 – Quanto a Forma e o Tratamento dos Leitmotiv.

Quando a idéia de forma tomaremos a proposta feita por Lorenz 12, no qual identifica que  o prelúdio esta estruturado numa forma ternária (A – B – A’)13 , a divisão desta forma é justificada por Roland Jackson14, pelo uso de material diferenciado nos motivos presentes em cada ponto da partitura, porém esta divisão não é definitiva, pois os motivos todos se combinam ao longo da musica e com eles seus matérias também, isso ocorre vários níveis, por outro lado, esta divisão tornou-se efetiva a partir do momento, em que passamos observar e descriminar os motivos que ocorrem com mais freqüência na superfície da musica. Podemos agora delinear a forma na qual  é construído nosso exemplo; um (A – B – A’), sendo que em B teríamos uma rápida divisão, acentuada por uma diferença  no sentido da mudança dos motivos utilizados no inicio a seção por outros (isso no nível superficial), teríamos então.:

                              A    -  1 – 17 compasso.

                              B    -  17 – 83 compasso.
ü  Sendo que teríamos aqui.:
_b’ 17 – 63.
_b” 63 – 83.

                             A’    -  83 – 111 compasso.

Sendo os leitmotiv o principal elemento construtivo no prelúdio de Tristão podemos através deles examinar melhor a formatação da musica, neste prelúdio Jackson propõem dois grupos de idéias básicas que serão as matrizes geradoras dos motivos que existem em A e B, destas duas idéias, a Primeira (A) constitui em cromatismo, já a Segunda (B) idéia é de cunho diatônico, aqui temos o que poderia ser um jogo de contraste, entre os matérias usados pelo compositor,  em seguida teríamos a combinação destas duas idéias (A’).

A  base da técnica composicional de Wagner,  repousa na forma com que ele manipula os temas, transformando-os ou rearranjando-os, evidente que cada um dentro de uma serie de parâmetros, para assim inseri-los dentro do conjunto de temas que pertenceram a (A) ou (B). É importante repetir que estes conjuntos de motivos iram ocorrer simultaneamente ao longo da peça, no entanto, no momento em que (A) estiver na superfície, (B) estará num nível mais a baixo.

Vamos agora definir os parâmetros que diferenciam (A) de (B), neste momento resolvi dividir estes em duas categorias, parâmetros particulares e gerais. Os parâmetros particulares se encontram diretamente ligados a construção de determinado grupo de motivos seja ele do grupo de (A) ou (B), já os gerais encontram-se em qualquer um dos dois grupos de forma independente assim concedendo unidade orgânica à peça.

Parâmetros Particulares

A – linhas cromáticas ascendentes e descendentes.
B – intervalos descendentes de 7ª e um conjunto ascendente de três notas numa figura rítmica pontuada.
  

 - Nos exemplos acima temos demonstrados os                
parâmetros particulares utilizados nos leitmotiv.




Parâmetros Gerais

Figura rítmica pontuada.
Apogiaturas na progressão entre um acorde de 6ª aum. para uma dominante.
Acorde Tristão.


   

      
A consciência desses elementos nos oferece condições de avaliar a construção musical de Wagner nesse prelúdio, numa visão das estruturas a níveis do macro ao micro. 


7. Conclusão.


Wagner através de seu trabalho foi uma figura de ‘atração’ e referencia para artistas e intelectuais em sua época, para muitos foi o grande gênio da musica após Beethoven, repensou a opera no Séc.XIX, dando a esta um expressão extremamente particular, além de oferecer as partes instrumentais um  capacidade comunicabilidade, interação e intervenção dentro do enredo nunca vistos, com isso ele também tornou-se influenciador da poesia simbolista na Francês(de Baudelaire) como também a poesia inglesa(de Yeats), assim como influenciou o teatro alemão no Séc. XIX, além de ter ainda hoje varias de suas idéias de comunicação dramática utilizando a palavra, a imagem e a musica largamente usadas pelo cinema atual, na criação de trilhas sonoras, e na multimídia, apesar disso, Wagner foi muito mais um artista Romântico, que propriamente um reformador, pois sua grande aspiração foi elevar o ideal Romântico, da plena expressão através da união de todas as Artes, a limites ainda não alcançados, Wagner foi um artista que fechou uma Era, mas diferente de Beethoven que fechou e iniciou dois momentos na arte da musica, não deu os primeiros para em direção de algo novo, Sua Obra afirmou as mais elevadas aspirações da Música Romântica.

8. Bibliografia.


HICKOC, Robert . Music Appreciation.
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Education Division of Meredith, NY –1971

ZAMACOIS, Joaquin. Curso de Formas Musicales.
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MILLINGTON, Barry. Wagner: Um Compêndio.
Jorge Zahar Editora, Rio de Janeiro – 1995

GROUT, Donald S. – PALISCA, Claude V. A History of Western Music
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New Groves Encyclopede of Music
Verbete “letmotiv” – Warrack, Jonh

LANG, Paul Henry. Music in Western Cilivization
W.W.Norton & Company – NY – 1998

LEVY, Kenneth . A Listener’s Introdution
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GUIGUE, Didier. Wagner: Apostilha da Disciplina Estética e Historia das Artes V.
UFPB/CCHLA/Demús – João Pessoa.
    
FUBINI, Enrico.  La Estetica Musical Del Siglo XIX a Nuestros Dias.
Barral Editores – Barcelona – 1971
  
BAILEY, Robert. A Norton Critical Scores: Prelude and Transfiguration from Tristan and Isolda.  W.W.Norton & Company – NY

BENNETT, Roy. Uma Breve Historia da Musica.     
 Jorge Zahar Editora – Rio de Janeiro – 1992

 MOISES, Massaud. Dicionário de Termos Literários.
Ed. Cultix – São Paulo – SP – 1985

MAIA, João, Domingues. Literatura: Textos e Técnicas.
Ed. Atica - São Paulo – SP – 1996

SCHOENBERG, Arnold. Harmonia.
Trad. Maluf, Marden
Ed. UNESP –  São Paulo – SP –  1999

NIEZTSCHE, Friedrich. O Nascimento da Tragédia.
Trad. Guinnsburg, Jorge
Companhia das Letras – São Paulo –

Wagner: Tristan et Isolda – En Bilingue (libretto)
Ed Aubier Flammarion – Paris – 1974

PISTON, Walter.  Armonia Tonal: en la Pratica Musical
Ed. Ricordi – Barcelona – 1986


1 Wagner, “Opera e Drama”
2  Nietzche, “Nascimento da Tragédia”
3 Enrico Fubini, “La Estetica Musical Del Siglo XVIII a Nuestro Dias”
* existem varias termos para designar o leitmotiv, alguns exemplos: thematisches motiv, melodisches momena, hampmotiv e ahnungsmotiv.
4 F.W. Jähns, “Carl Maria Von Weber in Seinen Werken”(1871).
5 Aquilo que se conserva na memória; lembrança, memória, recordação. Fonte: Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI  software da Lexicon Informática 
** a grosso modo a diferença entre a Idée Fixe e o Leitmotiv, esta na efetividade e variedade do segundo em relação ao primeiro. 
+ Termo utilizado para designer a aliteração poética na língua alemã.
6 Cruz e Sousa, “Faróis e Broquéis” 
* O exemplo de aliteração em português, justifica-se pois a aliteração poética não pode ser traduzida, por esta intimamente ligada a sonoridade dos fonemas em cada língua, apesar disso, as diretrizes da aliteração são comuns as línguas ocidentais.   
7 João Domingues Maia, “Literatura: Textos e Técnicas”
8 textos extraídos da compilação da serie: “A Norton Critical Scores: Prelude and Transfiguration from Tristan and Isolda.
9 textos extraídos da compilação da serie: “A Norton Critical Scores: Prelude and Transfiguration from Tristan and Isolda.

10 datas extraídas de documentos da Nationalarchiv Richard-Wagner-Stiftung, Bayreuth.
11 Os Leitmotiv estão no apêndice 1.
* Escrito de autoria do autor deste trabalho, inspirado no libretto da opera.
12 : A Norton Critical Scores: Prelude and Transfiguration from Tristan and Isolda.

13 não seguiremos aqui ao pé da letra as propostas de Lorenz, o tomaremos como referencia.
14leitmotiove and form in the Tristan Prelude”, texto extraído da compilação da serie: “A Norton Critical Scores: Prelude and Transfiguration from Tristan and Isolda. 



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