Oi pessoal, esses artigos sobre contraponto modal receberam muita atenção dos leitores. Por algum tempo tirei os "textos do ar", pois resolvi revisar e melhorar algumas coisas para em seguida republicar. Mas creio que isso foi um pouco injusto com os leitores. Então resolvi deixa-los a disposição. Ainda estou pensando como vou vincular o material revisado e ampliado (e aceito sugestões), mas quando rolar estará disponível no blog.
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Objetivo: Valorizar a idéia de movimento entre as notas que estão em contraponto direto com o cantus firmus, enriquecendo a sonoridade das linhas melódicas.
Nesta espécie trabalhamos com duas notas na melodia do contraponto [CP] para cada nota da melodia do Cantos Firmus [CF]. Assim antes de iniciarmos nos deteremos no entendimento do conceito de “partes principais e secundarias” na melodia do CF, este conceito é importante, pois no facilita o trabalho no momento da composição melódica do CF.
· Parte Principal [PP] ou Arsis: Toda a nota do CP que é executada ao mesmo tempo em que a nota do CF.
· Parte Secundaria [PS] ou Tersis: Toda a nota que se segue a PP ou que é executada após a nota do CF.

Ilustração 1
O uso das Consonâncias Perfeitas e Imperfeitas [CNP e CNI] segue os mesmos preceitos da primeira espécie, contudo, no contraponto de segunda espécie temos a adição do uso da Dissonância [DIS]. O uso de cada modalidade de intervalo é determinado pelo fato de se esta trabalhando no PP ou PS. Vejamos abaixo:
· No PP apenas utilizamos Consonâncias Perfeitas e Imperfeitas seguindo as normas da primeira espécie.
· No PS podemos utilizar tanto as Consonâncias Perfeitas e Imperfeitas seguindo as normas da primeira espécie. Como também as dissonâncias, porém uma dissonância só pode ser utilizada como uma Nota de Passagem entre duas consonâncias.
A Nota de Passagem [NP] é alcançada e deixada por grau conjunto numa mesma direção [ascendente ou descendente]. No contraponto modal de segunda espécie normalmente ela esta no meio de um intervalo de terça [maior ou menor]
Observemos o caso da ilustração [2] logo abaixo, temos uma passagem entre duas CNP [intervalo de terça] nos PP entre elas num movimento descendente temos uma DIS na PS como Nota de Passagem.
Lembre: A Nota de Passagem pode ser ascendente ou descendente.

Ilustração 2
Analisamos o caso acima:
- O quê determina que intervalo seja consonância ou dissonância são os intervalos que se encontram entre o CF e as Partes Principais e Secundarias do CP.
- Na ilustração [2] temos no CF a nota ré e no CP no PP a novamente a nota ré uma oitava acima, logo em seguida no PS temos o dó que esta uma sétima menor acima do CF, logo a seguir temos uma nova nota no CF, o mi, com a nota si no CP, ou seja, um intervalo de quinta justa. Sabemos que a oitava e a quinta são CNP e a sétima uma DIS. Observem que a DIS na verdade apenas serve como ligação entre as duas CNP, ela serve apenas como Nota de Passagem.
- Também podemos usar CNP e CNI como Nota de Passagem, mas apenas entre duas consonâncias [ver ilustração 3].

Ilustração 3
Um aspecto interessante do CP de segunda espécie é a possibilidade de podermos em alguns momentos repetir o intervalo do PP no PS, pois os dois serão consonantes com o CF [ver ilustração 3].
Normas para construção do CP de segunda espécie.
1. O CP na segunda espécie pode ser iniciado tanto na PP quanto no PS:
- Quando ocorre na PP devesse usar apenas CNP [8ª ou 5ª justa].
- Já quando iniciar no PS pode-se usar tanto CNP quanto CNI [8ª; 5ª justa; 3ªs e 6ªs maiores e menores]. [Ver ilustração 4]

Ilustração 4
2. Na finalização do CP a penúltima e ultima nota devem ter a mesma figura rítmica do CF, isso ajudar a reforçar a noção de conclusão da melodia modal. [Ver ilustração 5]

Ilustração 5
3. Nunca sair ou ir para uma dissonância por salto [sobre o uso dos saltos observe as normas da primeira espécie].

Ilustração 6
4. É permitida a repetição da nota do PP no PS, mas nunca o contrario.

Ilustração 7
O uso da Bordadura é um aspecto particular do CP de segunda espécie e deve ser tratado com muito cuidado.
A Bordadura [BD] é uma nota ornamental que se localiza entre a repetição de uma mesma nota, a bordadura é alcançada e deixada por grau conjunto em direções opostas, ou seja, se formos alcançá-la por movimento ascendente devemos sair dela por movimento descendente.
As Bordaduras podem ser:
- Superiores: quando a nota ornamental é mais aguda que a nota repetida.
- Inferiores: quando a nota ornamental é mais grave que a nota repetida.
Como também podem ser podem ser diatônicas ou cromáticas. Por enquanto usaremos apenas notas diatônicas.
Seguiremos com a apresentação de alguns caminhos que facilitaram a escrita da bordadura no CP:
- Nunca usa nota ornamental da bordadura uma dissonância.
- Quando a bordadura cair no PP, a nota seguinte pode ser uma dissonância como nota de passagem.
- Quando a bordadura cair no PS, a nota seguinte pode ser uma consonância.
Seguem abaixo algumas formulas de BD:

Ilustração 8
Vejamos agora a aplicação das formulas [ilustração 9]:
Formula A: é pratica quando temos no CF um salto de terça maior ou menor [ascendente ou descendente].

Ilustração 9
Observação: Quando o salto na melodia do CF for ascendente a BD será mais fácil de ser praticada de forma descendente e vice-versa.
Formula B: é pratica quando a BD é superior ou ascendente, independente do sentindo da melodia do CF [ascendente ou descendente].

Ilustração 10
Observação: independente do sentindo da melodia do CF, teremos diferentes intervalos sob a nota que repetida na BD. Podemos fazer uso de alguns clichês, tais como: termos uma melodia ascendente no CF e sairmos de uma 5ª para 6ª; termos uma melodia descendente no CF e sairmos de uma 5ª para 3ª.
A BD descendente dificilmente pode ser praticada nesta formula, pois além das dificuldades de encaixar os intervalos, podemos provocar passagem entre CNP por movimento paralelo ou direto consecutivamente. Na escrita estes intervalos podem até não parecer graves, contudo, na audição eles são expressamente denunciados.

Ilustração 11
Formula C: é pratica tanto com a BD superior quanto ascendente, independente do sentindo da melodia do CF [ascendente ou descendente].

Ilustração 12
As Oitava e Quintas Ocultas.
As Oitava e Quintas Ocultas são uma dificuldade constante na escrita do CP, pois muitas vezes, por causa das notas nas PS’s o aluno/compositor passa desapercebido da ocorrência deste problema.
As Oitava e Quintas Ocultas ocorrem quando em PPs consecutivas ocorrem CNP [uníssonos, 8ªs ou 5ªs] por movimento paralelo/direto. Elas devem ser evitadas a qualquer custo na escrita do PC, para isso, temos apenas dois remédios:
- Domínio das técnicas do CP de primeira espécie.
- Atenção na escrita.
Vejamos alguns casos abaixo:

Ilustração 13