quarta-feira, 27 de março de 2024

Umas poucas palavras sobre os Suno IA da vida e o apocalipse musical.

Por Marcello Ferreira Soares Junior

Aviso: esse texto contém ironia e é uma opinião pessoal incapaz de qualquer ingerência sobre a realidade... Mas já que eu tinha tempo livre resolvi escrever! Texto publicado em 27/03/2024.

Prequel:

- Já a algum tempo se tem falado do impacto das IA sobre diversas atividades. 

- A discussão fica mais acalorada quando entramos na produção criativa. 

Inspiração:

Hoje li um artigo no jornal Folha de SP e assistir um video do produtor musical Felipe Vassão sobre a IA musical Suno. E esses materiais foram a inspiração para abordar o tema e falar de outras coisitas sobre tecnologia, fim do mundo e música.

Do início e do fim...

Inicialmente, gostaria de colocar que durante nossa vida passamos por vários "fins de mundo". Pense como as coisas mudaram durante sua vida e como coisas que eram o zeitgeist de um tempo simplesmente "deixaram de ser". Elas acabaram! Foi o apocalipse de um tempo.

Então continuamente vivemos fins e começos, mais ou menos traumáticos ou pacíficos.    

Algumas palavras.

Bom, quando se entra nessa seara tecnologias interferindo na arte temos todo tipo de argumentação, desde as mais “pé no chão”, que entendem que não há como simplesmente parar o desenvolvimento das IA, mas é necessário regulamenta-las. Pilhas de argumentos se sucedem até chegarmos aqueles argumentos românticos a lá “fantástico mundo dos unicórnios telúricos da dimensão X” que defendem que: as IA nunca gerarão um objeto de arte capaz de impulsionar uma “fruição estética”, por que a máquina não tem o “Tchan da alma humana” (normalmente isso vêm de gente que acredita em teste do buzzfeed).

Geralmente dentro desse ideário romantizado sempre surge alguém alardeado que o "lobo está chegando"!

Mas voltando para a músicas, vou tratar do Suno IA como um exemplo dessas polêmicas. Suno IA é uma plataforma com a qual qualquer pessoas sem treinamento musical pode compor, através de comandos em um prompt, uma canção dentro dos gêneros e estilos mais consagrados do Pop e Rock. 

Bom, você pode tentar outros gêneros musicais de alguma nacionalidade ou regionalidade especifica. Mas os resultados ainda não são tão bons. Afinal, a IA ainda está sendo “treinada” e com o tempo e treinamento, o céu é o limite. 

Atenção: Olha só, as próximas linhas do texto vão fazer muita gente espezinhar.  

Observando o resultado obtido numa rápida incursão na IA, posso dizer sinceramente que, para um ouvido menos treinado (ou seja, 98,99% da população mundial), logo de cara, não dá pra fazer distinção se a canção foi feita por um humano ou uma IA, isso quando é usando os estilos mais consagrados e "treinados" pela IA. 

Repetindo: Dentro dos gêneros e estilos nos quais a IA está mais treinada atualmente, os resultados são de impressionar. 

Guardem essa informação: no estágio atual das IA, elas precisam de conteúdo para serem treinadas.

Não vá tentar fazer uma milonga ou uma embolada que não vai sair. Porque são dessas tentativas esdrúxulas que saem aquelas críticas infantis do tipo: Estão vendo! A máquina não pode reproduzir "nossa" música porque ela tem mais "alma" e é mais autêntica que a outra e blá blá blá.

Talvez seja melhor ficar alerta e consciente que a sua música tão "cheia de alma", talvez não vai sair, por enquanto. Ou sendo sincero, talvez nunca vai sair mesmo. Não porque ela tem valores intrínsecos exotéricos inacessíveis "para quem não é de um determinado local ou porque não tomou água de uma fonte sacrossanta". E sim, por ela deve pertencer a um nicho insignificante para o grande mercado. 

Afinal, quem vai se dar ao trabalho de treinar a IA com ela se não gerar um lucro significante?

Dito isso, temos as opções de tentar entender o fenômeno que está a nossa frente ou nega-lo. Entendo que essas é uma escolha de cada um. A diferença entre as duas atitudes, é, ao meu ver a seguinte: a primeira pode te dar algum estofo para enfrentar o futuro a segunda pode levá-lo a um susto muito maior no futuro (nem tão distante).

Daí você pensa: a cada ano de treino da IA irá adquirir mais e mais repertório. O que vamos fazer para criar uma música "humana" original?

Aqui vou sugerir algumas opções:

1 - Talvez fugir muito e muito de padrões e clichès estabelecidos e beirar um experimental?

2 - Tentar criar gêneros novos ou híbridos (exemplo: O black metal reggaton) ?

3 - Se esconder num bunker com um violão e um gravador?

4 - Não dá bola e "tocar a vida". Até por que essa IA vai servir a música Pop e seus subgêneros que é onde está o dinheiro (a turnê Eras Tour da Taylor Swift arrecadou mais de US$ 1 Bi!).

5 - Incorporar a IA a produção musical.

Bom, as opções 1 e 2 são bem difíceis. Afinal, uma ruptura dessas exigiria abandonar padrões consagrados e já retidos no inconsciente e gosto coletivo dentro de culturas e subculturas musicais e sociais. E ela talvez demandaria dos seus agentes muito repertório técnico, linguísticos, teórico e material.    

A opção 3 é algo que talvez muita gente no mundo de hoje adoraria poder fazer, mas é um tanto antissocial, não acham?

Na minha opinião as opções 4 e 5 são as mais factíveis. Afinal, hoje já temos softwares e vst como os da iZotope que usam IA para auxiliar, agilizar processos de produção de áudio e musical.

Na boa, estamos passando pelo "susto do novo". E é provável que as coisas vão se acomodar e vão surgir novos modelos de expressão, produção e reprodução musical. Talvez passe a ser exigido dos operadores desses novos modelos cada vez mais preparo e um repertório de "erudição musical" mais ampla. 

E claro, é sempre bom lembrar que uma empresa de IA só vai treinar sua máquina com aquilo que dá muito lucro e/ou muito popular a nível mundial. As IA ainda irão precisar de muito material para serem "treinadas". Assim, simplesmente substituir composições de humanos por das IA do dia para noite é algo fora de questão. Talvez a grande questão seja a regulamentação e os direitos autorais dos autores das músicas usadas para treinar as IA. 

Lembram que falei que as IA ainda estão em "treinamento" e precisam de música original?

Olha só, é possível que empresas que desenvolvem as IA estejam usando como "atalho" músicas que estão em streamings para treina-las. Assim, ao invés de protesta contra essas "máquinas exterminadoras do futura da música", creio que seja melhor no presente cobrar das plataformas de streamings por valores (dignos) dos royalties de licenciamento das músicas.

Claro ainda paira o temor que é provável que a longo prazo podemos ter desdobramentos e uma ampliação do alcance produtivo da IA. Mas não adianta grita pelo ovo da galinha que ainda nem é ovo!

Haverá impacto sobre o campo de trabalho musical? Se eu disser que não estarei mentido. Como já foi repetido milhares de vezes por especialistas em IA: É provável que muitas atividades simplesmente não sejam mais necessárias e que outras sugiram. Mas com uma grau de exigência técnica muito mais elevado.

Mas vejamos esse futuro que despontado no horizonte por outro prisma. Um vez Marx escreveu (Zésuis é um texto comunista!👹) que “a história acontece primeiro como tragédia e se repete como farsa”. Bom, nós estamos vivendo a farsa!

Novamente, vivemos um momento de perplexidade com os avanços da tecnologia dos últimos 30 anos. Pense comigo, não é curioso que ao mesmo tempo que sofremos um susto nós naturalizamos esses avanços? 

Pensem nos seus smartphones! Se em 2000 alguém descrevesse seu smartphone de 2023 e/ou seu uso da internet, para a maioria das pessoas isso soaria como um relato de pura ficção.

Vou contar três pequenas histórias apocalípticas:

💣Durante a primeira revolução na Inglaterra do século XVIII, surgiu o movimento chamado de Ludismo, idealizado por Ned Ludd. O Ludismo pregava como ação material a destruição das máquinas. Pois os ludistas acreditavam que os trabalhadores se tornariam inúteis com processo da mecanização.

O que aconteceu?

1.   Não houve como parar o desenvolvimento tecnológico e com as facilidades advindas da tecnologia muita gente nem cogitava voltar atrás. Foi necessário qualificar os trabalhadores (subiu o nível de exigência para o trabalho).

       🎹Com o surgimento da eletrificação e os processos de reprodução sonora de música (fonógrafos e discos) e processamento mecânicos (pianolas) do início do século XX, muitos clamavam que a performance musical acabaria.

O que aconteceu?

2   Como sabemos os processos de reprodução e performance musical continuaram a existir e passaram a coexistir, e inclusive se retro alimentando. Essa interação acabou gerando outras formas de sustento para os músicos e compositores.

     👾No final dos anos 80, havia toda uma polêmica contra a música eletrônica que usava samples e sequenciadores. Os músicos atacavam os artistas (que na maioria também eram músicos) de estarem destruindo a música e fazendo uma música “sem sentimento”.

O que aconteceu?

2    A música não foi destruída! E quem nunca dançou ou curtiu Daftpunk numa festa ou não se emocional com a trilha sonora deles em Tron 2? (Se você nunca... Só lamento... Mas ainda há tempo!)

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Detalhe Técnico: Só pra constar. Algumas ondas de energia que viajam usando como meio a nossa atmosfera, chegam a nossos ouvidos e de lá são processadas por nosso cérebro e surge o que entendemos como o som. Se esse conjunto de informações apresentarem um certo grau de continuidade, redundância e “organização das alturas e durações”, ele é entendido como fala ou  música. Isso tudo é para dizer o que o som em si não "carrega" sentimentos! Quem tem sentimento é o ouvinte e por meio de diversos fatores intelectuais, psicológicos, culturais e sociais e etc etc.. Extraí daqueles sons alguns “gatilhos emocionais”, daí você ri, chora, sente nostalgia, se apaixona, odeia ao ouvir música.

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Dito isso: Muita hora nessa calma! 

Mais uma vez repito (Até porque o mundo da internet é o mundo a eterna reiteração do mesmo): Estamos vivendo o momento da perplexidade com as mudanças tecnológicas dos últimos anos. Negar essas mudanças e acreditar em purismos telúricos ou se isolar em uma trincheira musical é um tanto quixotesco (Apesar que para alguns isso é viável se há um grupo que sustente uma posição). Mas não é solução.

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Pausa para um comentário:

Particularmente, acredito que tal postura de trincheira pode ser combustível para inflar discursos de "isolacionismo e xenofobia cultural" e/ou "valoração inconsciente da mediocridade". Mas isso é outra discussão.

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Certo é que, como já vimos na história, só teremos uma resposta com o tempo. Afirmar que as coisas vão ser assim ou assado é brinca de "mendigo apocalíptico" com cartaz escritório: "O fim dos tempos está chegando!".





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