segunda-feira, 29 de junho de 2020

Escalas heptatônicas: Uma visão geral de estruturação.

                                                                                                        Organizado por Marcello Ferreira Soares Junior
Olá amigos,

Bom, aqui quero "passar uma vista" de forma geral sobre a construção das escalas heptatônicas maiores/menores. Não vou trazer nenhuma "sacada" teórica genial, ultra-mega-blaster. Mas apenas compilar informações que possam auxiliar em várias dúvidas relacionadas os aspectos de construção da base dessas escalas que são o fundamento do idioma musical do ocidente. 

Inicio

Conceitos norteadores (uma bussola):

1. Escala (do latim scala, significa escada) é uma série de sons que são reunidos e organizados por meio de uma série de intervalos acústicos.

2. Toda escala musical segue algum tipo de organização de intervalos.

3. A maioria das escalas musicais são construídas dentro do âmbito de uma oitava.

4. A escala determina um grande número de aspectos da estrutura musical, desde as notas usadas numa melodia como também é ponto de partida para construção nos acordes (campo harmônico).

5. Na música ocidental temos dois tipos básicos de escalas, as maiores e a menores (a escala menor deriva da maior). Alguns autores chamam essas escalas básicas de “escalas naturais”, pois são as mais básicas e primitivas no estudo de música (ocidental).

6. As escalas maior e menor diferem entre si por causa da organização interna de seus intervalos, mas principalmente, por causa do intervalo acústico entre suas primeiras e a terceiras notas.   

7. As escalas também são chamadas de escalas diatônicas. O termo “diatônico” vem do Grego DIATONIKÓS, “relativo a certas escalas musicais”, de DIA, “através”, mais TONOS, “modo de fazer, tom”, podemos traduzir como “através dos sons”. Na teoria musical, a escala diatônica é uma escala composta de sete notas (heptatônica) que segue uma determinada organização de intervalos.

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OBSERVAÇÃO: ALGUMAS INFORMAÇÕES IMPORTANTES COMO:
 A. DIVISÃO DA ESCALA POR TETRACORDES;
B. CLASSIFICAÇÃO DOS TETRACORDES; 
 C. FÓRMULA DE INTERVALOS DA ESCALA MAIOR. 

ESTÃO NUMA PUBLICAÇÃO ANTERIOR SOBRE OS MODOS. 
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Intervalos acústicos: são distâncias físicas entre dois sons. Eles são medidos utilizando o hertz como grandeza. 

Na teoria musical ocidental mediremos a distância usado o intervalo de semitom (ST) como unidade. Dentro da teoria musical temos o semitom como o menor intervalo e a sétima maior intervalo entre dois sons diferentes*. E a oitava como o intervalo entre uma nota e sua repetição em direção ao agudo ou grave. 

De forma geral consideramos o semitom o menor intervalo e a oitava o maior intervalo dentro da teoria da música ocidental.
 
Fig 1

(*) Claro que temos textos como de Alois Hába que trata do micro tonalismo e estruturas de outras culturas musicais. Mas vou me deter na "Prática comum tonal" de forma geral). 


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OBSERVAÇÃO: Usaremos nesse texto a contagem usando apenas a unidade semitom (ST) e iremos dispensar o uso do termo tom (T). Essa é uma opção feita por mim em minhas aulas por observar que a contagem dos intervalos usando uma unica unidade de grandeza (semitom) ou invés de duas (semitom e tom) facilita e torna dinâmica a compreensão e a classificação dos intervalos.

Por exemplo: É mais rápido e fácil o iniciante (e até o musico experiente) entender que é o intervalo de terça maior:

- É composto por 4 semitons. (aqui temos uma única operação de contagem);

 Ao invés de entender que uma terça maior.

- É composta pela soma de dois Tom. (aqui temos que fazer ao menos duas relações para chegar ao mesmo resultado: somar dois semitons para forma um tom e dois a soma desses dois tom).

Agora imaginem a situação para um intervalo como a 6º maior?

Resposta 1: 9º semitons.
Resposta 2: 4 toms + 1 semitom.

Faço o paralelo entre o uso do segundo tipo de resposta com a utilização dos números romanos para somas e multiplicações.

57+43=100

LVII+XLIII=C

Contudo, para um uso ordinal os números romanos são muito mais elegantes e distintivos.

Não quero desqualificar aqui nenhum sistema. Acredito que os dois sistemas são muito uteis em contextos diferentes. Inclusive por que o sistema que usa semitons e tons foi o sistema com o qual eu aprendi e me serviu muito bem por anos. Mas a contagem por unidade tem um paralelo com outras fomas de contagem como a cronológica (segundo/minutos/horas/turnos/dias e etc) ou o ábaco. 
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Podemos a partir de agora definir as distâncias entre qualquer nota dentro do universo de sons utilizados na música tonal. 

Vamos observar a figura a baixo**:
 
Fig 2
(**) Utilizaremos todos os exemplos inciados com a nota Dó.

Nela estão representadas várias divisões por semitom (ST) dentro de uma "extensão" (tessitura) que vai do Dó central (Dó 3 ou 4 - 261,626 Hz)*** ao Dó uma oitava mais agudo (Dó 4 ou 5). Dentro desta "extensão" temos 12 semitons. Em resumo, uma oitava, ou seja, o maior intervalo é composto por doze semitons (o menor intervalo que serve como unidade de grandeza). Dessas divisão surge a escala cromática.

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Aqui temos uma pequena divergência em relação a nomenclatura do Dó central (localizado na linha adicional abaixo da primeira linha da clave de Sol ou na linha adicional acima da clave de Fá). Temos o modelo francês usado no Brasil onde o Dó central é designado como o Dó 3 e o  o modelo da Scientific pitch notation utilizada pela American standard pitch notation (ASPN) e international pitch notation (IPN) onde o Dó central é identificado como o Dó 4.  

Normalmente, uso o segundo modelo por praticidade quando estudo textos teóricos estrangeiro (principalmente me língua inglesa). Mas vou marcar os dois para fica prático para todos.
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A escala cromática é uma sequência de notas diferentes organizadas de forma consecutivas que são divididas por intervalos de semitom. Ela é formada dentro do âmbito de uma oitava, ou seja, o intervalos entre a primeira nota e sua repetição deve ter 12 semitons em direção ao agudo ou grave. 

Essa escala é composta dentro de uma oitava e é composta por doze semitons é a escala cromática **** (escala de todas as "cores"). 

Fig 3

No ocidente para formarmos qualquer escala tomamos como base as notas da escala cromática.
 
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(****) Não vou entrar no percusso histórico e teórico que levaram a formulação dessa escala de sons utilizada em nossa música. Mas sugiro leituras como:

História da Música Ocidental - Donald Grout e Claude Palisca;
Música, Cérebro e Êxtase - Robert Jourdain.

Que tratam desse assunto de forma interessante (e bem melhor do que eu faria..kkk)!!!
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Dentro da oitava podemos encontra outros onze intervalos menores. Cada um contento um certo número de semitons que os diferenciam.

Fig 4

Cada um desses doze intervalos tem um um nomenclatura que o identifica. 
  
Fig 5

Os intervalos são divididos em quatro grupos de acordos com suas Qualidades: Justos, Maiores/Menores, Trítono, Aumentados/Diminutos. 

Para cada uma dessas Qualidades há um conjunto de dos intervalos:

Intervalos Justos: que não tem variação na sua estrutura (Número de semitons): Oitava, Quinta e Quarta.

Maiores e menores: Forem variação na sua estrutura (Número de semitons): Segundas, Terças, Sextas e Sétimas.

Trítono: intervalo que divide a oitava ao meio e se encontra entre a Quarta e a Quinta.

Aumentados e Diminutos: Não se encontram "naturalmente" na divisão dos intervalos da escala cromática. Na verdade, esses são intervalos são um "artificio" teórico (artificio dentro do artificio) para designar intervalos que extrapolam as "regras de escrita dos intervalos" em casos excepcionais (que não iremos tratar nessa publicação).

Fig 6

Inversão de intervalos

Sobre a inversão de intervalos a definição dada por Med: 

Inverter um intervalo consiste em trocar a posição de uma nota, isto é, transportar a nota inferior uma oitava acima ou uma nota superior uma oitava abaixo.(Teoria Musical. Ed. MusiMed Pág. 78)

Pensemos em uma nota como um eixo:
 
Fig 7

Tendo uma nota como eixo e trocando a posição das notas que gravitam ao seu redor a relação de distância intervalar entre a notas se altera. Dessa forma se altera também a classificação do intervalo. Essa alteração funciona como um espelhamento. *****

Na figura abaixo temos um quadro onde temos as de inversão das qualidades dos intervalos.

 
Fig 8

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(*****) Sobre os espelhamento segue o artigo anteriormente publicado nesse blog Notas sobre Escrita Espelhada (Intervalos, modos, acordes) e algo sobre Harmonia Negativa.
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Fig 9

Na figura 9, temos a relação de inversão da Qualidade dos intervalos.

Grau

Aqui mais uma vez irei usar uma definição baseada naquela usada por Med (Teoria Musical. Ed. MusiMed Pág. 87). 

Graus é um conjunto de nomenclatura utilizadas para enumerar as notas de uma escala de acordo com sua posição em relação a nota inicial. Normalmente, usa-se numerais romanos para enumerar os graus:

Exemplo: Primeira nota = I; Segunda nota = II; Terceira nota = III... 

As Escalas Maiores e menores.

Praticamente todas as escalas na música ocidental (e muitas orientais) são construídas sobre três intervalos fundamentais:

- Oitava;
- Quarta;
- Quinta.

Fig 10

Por uma série de aspectos teóricos, perceptivos e culturais esses três intervalos são a fundação de diversas escalas em diferentes idiomas musicais (novamente sugiro a leitura do Música, Cérebro e Êxtase - Robert Jourdain).

Construção e estruturação de uma escala

Antes uma digressão

Antes de começarmos o processo de entendimento de construção de uma escala, é necessário fazer uma rápida digressão.  

Levando em consideração o item 3 dos Conceitos Norteadores (inicio do texto) Uma escala pode ter no minimo um intervalo****** (a oitava) e no máximo 12 intervalos (semitons).

 
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(******) O termo tom é usado para se referir a nota como entidade sonora dentro de um contexto musical.
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A quantidade de intervalos internos pode variar da acordo com a escala utilizada. Temos escalas com diferentes quantidades de intervalos internos dentro de uma oitava:

Pentatônica: 5 tons; Hexatônica: 6 tons; Heptatônica: 7 tons...

Dentro da tradição tonal utilizamos a escala de sete tons diversos (Heptatônica). Aqui trataremos das escala heptatônicas.

Exemplo a escala de Dó maior: Dó - Ré - Mi- Fá - Sol - Lá - Si.

Seguindo em frente: tetracordes

Vamos agora partir para montagem de uma escala maior (heptatônica). Tomaremos como base a escala de Dó maior: Dó - Ré - Mi- Fá - Sol - Lá - Si.
 
Essa configuração apresentada na figura 10 divide a oitava de forma equidistante a partir do eixo formado pelo quinto e quarto  quando os intervalos são invertidos. Nessa divisão utilizamos apenas três notas das doze encontradas na escala cromática. contudo, para monta uma escala escala heptatônica iremos ter que dispor de mais 4 tons.

Vamos chamar cada parte da escala de tetracordes (quatro notas).

Podemos dizer que os tetracordes tem funções claras:

- O primeiro tetracorde define a o tipo de escala (Maior/Menor): 
Uma escala é considerada maior quando seu primeiro tetracorde é um tetracorde maior. Ou seja, intervalo entre o I grau da escala e o III seja uma terça maior (4 ST). Ex.: dó - mi.

Uma escala é considerada menor quando seu primeiro tetracorde é um tetracorde menor. Ou seja, intervalo entre a I grau da escala e o III seja uma terça menor (3 ST). Ex.: dó - mib.
  
- O segundo tetracorde define a "força conclusiva" dessa escala.

A força conclusiva está ligada a sensação gerada pelos intervalos finais do tetracorde. Essa sensação é mais acentuada quando temos um ST entre o sétimo e o oitavo grau da escala (Ex.: si-dó). Mas num sentido mais amplo para nossa percepção tonal dois requisitos concedem uma maior sensação conclusiva ao tetracorde final: 

1. Ter entre o V e VIII (I) graus o intervalo de Quinta Justa (7 ST);
2. Ter entre o VII e VIII (I) graus o intervalo de Segunda menor (1 ST).

Em muitos casos apenas o segundo requisito basta.



Fig 11

Na figura 11 temos a divisão da escala heptatônica em dois tetracordes:

1. O primeiro tetracorde (as notas dó. ré, mi, fá) parte do primeira grau e segue para o quarto grau da escala.

2. O segundo tetracorde (as notas sol. lá, si, dó) apresenta a quinta nota e segue para a repetição do primeiro grau uma oitava acima da escala. 

Os dois tetracordes apresentam internamente o mesmo número de tons (quatro) e intervalos (três). Os dois tetracordes estão separados por um intervalo de 2º maior (dois semitons).

Fig 12
 
Essa estrutura inicial é uma boa base para geração de escalas tanto "naturais" e "artificiais". 

- Agora é aquela hora que tu me pergunta: Como eu completo?

Bem, vai de acordo com o cliente. Mas vamos nos deter primeiro a escala maior.

Vou chamar o conjunto de intervalos que formam a escala de "fórmula". Observando a figura 11 podemos ver que na fórmula da escala maior a divisão dos intervalos é igual dentro dos dois tetracordes. 

Para representar as Fórmulas das escalas acredito que o uso do termos termos semitons e tons juntos são aqui ajudam a facilitar a memorização. Pelo fato das grandezas serem aqui apresentadas de forma individualizada. 

Vejamos o a Fórmula da escala maior: T T ST (T) T T ST*******

Fig 13



A seguir uma variação a escala de Dó maior Harmônica: T T ST (T) ST 3ºm ST 

Fig 14

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(*******) Existe todo um processo histórico e estético que culminou na escolha dos intervalos que complementam a estrutura dos tetracordes de uma escala. Contudo, não pretendo discutir ou apresentar todo esse processo. Mais um vez sugiro as leituras História da Música Ocidental - Donald Grout e Claude Palisca; Música, Cérebro e Êxtase - Robert Jourdain.  
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Em resumo as fórmulas das escalas maiores:

fig 15


Claro não existem regras pétreas! Você pode experimentar e buscar as sonoridades que reflitam sua ideia sonora. Afinal diferentes culturas lançam mão de diferentes idiomas que se adequam a sua expressão particular. Vejam que as escalas Húngara e Cigana "ferem" princípios estabelecidos anteriormente. (figura 16)

Fig 16

 

Os mesmos princípios das escalas maiores também serve para as escalas menores guardo as devidas particularidades.

Fig 17.


Existe uma falsa ideia de supremacia de uma determinada escala para outras. Acredito que na verdade as escalas se prestam para diferentes finalidades expressivas. Dessa forma, uma música não será melhor ou mais complexa por usa determinada escala exótica ou artificial  que outra que utiliza a boa e velha escala maior.

Na próxima publicação vou trazer os mesmos aspectos transplantados paras as escalas Pentatômicas e Hexatônicas. 

Bom, então divirtam-se experimentando!

  
Referências

Bennett, Roy. Como Ler Uma Partitura. Ed Zahar - 2001
Bennett, Roy. Elementos Básicos da Música. Ed Zahar - 2001
Day, Holly / Pilhofer, Michael. Teoria Musical Para Leigos. Alta Books - 2013
Jourdian, Robert. Música, Cérebro e Êxtase. Objetiva - 1998.
Grout, Donald. Palisca, Claude. História da Música Ocidental. Gravita 
Lacerda, Osvaldo. Compêndio De Teoria Elementar Da Música. Ricordi - 2006
Med. Bohumil - Teoria Musical (edição ampliada). MusiMed - 2012 
Sadie,Stanley - Dicionário Grove de Música (edição concisa). Ed. Zahar - 2001
Slonimsky, Nicolas. Thesuarus of Scales and Melodic Patterns. Anmsco Publications - 1975
Minhas anotações de estudo.
  







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