quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Hazmat Modine – Bahamut (2007)


Provavelmente, o trabalho deste grupo nova-iorquino tenha sido uma das melhores coisas que escutei este ano. Reunindo excelentes músicos, muito bom humor, Blues, Reggae, Country, boas “soluções musicais”, Foxtrot, música caribenha, bom gosto e instrumentos exóticos, o Hazmat Modine chegou a este belo resultado. Uma coisa que mais “salta” aos ouvidos é o bem feito jogo de diferentes timbres nas composições, as vozes versáteis; gaitas; madeiras; metais; percussões; madolins e slides guitarras [além de cigarras e latidos de cachorro!!]. Sobre as composições podemos dizer que: 1. Não seguem sempre um esquema fixo, contudo, algumas canções seguem um esquema tipo: tema – intervenção – repetição do tema – intervenção; 2. Não vamos encontrar grandes malabarismos instrumentais, pois os músicos do Hazmat prezam pelo bom gosto; bom humor e elegância das composições; 3. O bom trabalho com os diferentes timbres encontrados no grupo é uma das tônicas do trabalho.

Para dar um bom exemplo disso tudo, irei destacar quatro faixas “yesterdays morning”; “bahamut”; “almost gone” e “everybody loves you”.

A primeira canção traz um tom fluido e descontraído. A descontração talvez seja a palavra chave desta faixa, vejamos a percussão e o acompanhamento sempre em um ligeiro “contratempo” dançante aos moldes do reggae, somado a isso a bela interpretação do vocalista. Mas como disse, a marca registrada deste trabalho é o belo trabalho com os timbres. Temos no tema inicial uma bela combinação dos timbres das gaitas com os metais. Esta combinação instrumental junto com a voz será o “bloco central” da canção, entre cada apresentação do tema principal e uma estrofe teremos um solo que um instrumento, “nada de fantástico” pode pensar o mais apressado, contudo se formos mais cuidadosos perceberemos que cada solista é muitíssimo idiomático com seu instrumento, ou seja, ele valoriza a sonoridade típica dele. Dentro do contexto da música estes solos a contraposição musical ao bloco principal, os músicos do Hazmat nos dão a cada solo uma nova sonoridade a ser apreciada, esta sonoridade não é só diferente na melódia que apresenta, ela também traz outros aspectos que a individualiza, como o timbre [gaita num registro grave; slide guitar e clarinete] e a textura. Apesar de não ser nenhuma novidade em termos de composição este expediente é sempre bem vindo, quando bem executado.
A música que batiza o álbum “bahamut” sintetiza muito do que foi dito anteriormente, só que agora o formato da canção se apresenta bem diferente (alias talvez nem seja muito coerente chamar algumas músicas de canções, pois algumas delas não seguem o esquema estrofe-refrão-estrofe ou estrofe-ponte-refrão-estrofe). O ponto central e "culminante” da música encontrasse no texto recitado (bastante curioso) sobre o bahamut (uma criatura marinha da mitologia árabe), constatamos isso observando o que vem antes de depois do texto: a introdução [gaitas]; a estrofe cantada; e os solos de trombone e gaita (um belo dialogo pentatônico/modal, grave/agudo, escuro/brilhante de duas sonoridades bem diversas); temos então o texto (a voz do orador sofre um efeito que nos remete ao som tipico documentários televisivos); temos os solo de trompete e guitarras (novamente a sonoridades diversas dialogam, o som incisivo e quase irônico do trompete se intercala com a sonoridade bem delimitada e equilibrada das guitarras; por fim novamente temos estrofe cantada. Com este esquema os caras fizeram um palíndromo ao redor do texto, também nada de novo em termos de composição musical, mas novamente com um resultado maravilhoso, a musica é inteligente sem deixar de se instigante e até dançante.

Em “almost gone” temos um melodia pentatônica/modal na gaita que se repete três vezes eu uma seção onde temos um solo/improvisação. Esta musica é claramente marcada no esquema: tema – intermezzo – tema – intermezzo – solo/improviso – intermezzo – tema – final. Temos aqui uma forma musical rondó. Nada demais, contudo, é legal observar a forma como é tratada cada aparição da melodia. Cada vez que ela aparece um novo elemento esta presente no acompanhamento (na primeira e segunda aparição) ou no próprio tema (terceira aparição quando o tema é “dobrado” em outra gaita) só soluções simples que dão diversidade a um único elemento.

Escolhi a canção “everybody loves you” por mostrar um aspecto interessante do Hazmat o uso e combinações de elementos musicais de referencias diversas sem sair da proposto ou torna a musica um “estranho no ninho” dentro do álbum, pois isso as vezes é um pecado que acomete muitos trabalhos, a vontade de ser experimental demais ou universal demais cria muitas vezes Franknsteins musicais. Em “everybody loves you” temos cânticos afro; vocais gravíssimos dos monges budistas; instrumentos de sopro chineses (tocando seus modos!!); um bela levada Blues...tudo isso sem que a música fique “pendendo” ou “estranha” em relação as demais. Isso mostra a qualidade na composição do Hazmat, fruto claro de muito trabalho e “cabeças-quebradas”.

Minhas impressões sobre este álbum são estas: ele é inteligente, bem feito, atrativo, instigante, divertido....

Abraço a todos!!!

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