sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Mahavishnu Orchestra – the inner mounting flame (1971)

Dentro do universo do fusion/jazz/progressivo a figura de John McLaughlin e seu Mahavishnu Orchestra esta cercada por uma aura quase mágica, sua música é extremamente influente e representa um salto qualitativo imenso para estilos como rock/progressivo/fusion/jazz. Para alguns John McLaughlin foi tão importante para definir a forma moderna de tocar a guitarra elétrica quanto foi Hendrix. Para termos uma idéia o cara é referencia para gente grande como: Jeff Beck; Pat Metheny; John Petrucci; Al Di Meola [com quem já tocou] e Jimmy Page [que chegou a ter aulas com McLaghlin].

No começo dos anos setenta surge o Mahavisnhu Orchestra, este grupo resulta de uma miscelânea que reuniu músicos de diversas influencias e nacionalidades com diferentes estilos e formas de fazer música. Este tipo de comentário sobre miscelânea musical é, nos dias de hoje, algo que merece ser observado com imensas reservas, pois tais miscelâneas resultam muitas vezes em algo parecido com um time de futebol de uma doçaria, ou seja, parece ser bom, contudo, a tática e o jogo é de "bolo". Já a miscelânea promovida pelo Mahavishnu é concreta, aqui realmente temos elementos diversos que são condensados para produzir um terceiro elemento. O termo condensar é uma boa definição para a música do Mahavishnu, pois nela estão imersos elementos da música ocidental [jazz; blues; rock; folk; experimentalismo; minimalismo] e oriental [como a música clássica indiana sua construção rítmica e formal].

O álbum "the inner mounting flame" foi lançado em 1971, mesmo fazendo algumas reservas em relação à sonoridade da época em que foi gravado, ele poderia muito bem se passar por um álbum lançado há um ano atrás. Tal grau de contemporaneidade se dá pelo fato dele antecipar muitos aspectos que só passaram a ser explorados pelos músicos em geral de dez anos para cá. Principalmente quanto na forma de execução e alguns elementos na composição das faixas. Acredito que a grande atração em relação a este álbum esta no fato de apesar de ser em tese um trabalho baseado no jazz/fusion, temos nele muito de hardrock, tendências psicodélicas e até funk.

Basicamente as faixas de "the inner..." seguem um esquema comum no jazz, ou seja, temos um tema que é apresentado no acompanhamento e em seguida temos as improvisações dos músicos da banda. Podemos ouvir isto claramente "awakening" onde a banda inicia com o tema, que é repetido três vezes, inicialmente com a guitarra e a bateria, na segunda entra o teclado e baixo e finalmente o violino. O que se seguei é uma desconcertante macha harmônica que sai do tema em ré dórico e se define em algo que eu acredito ser um acorde que nem é maior com 7° maior com a guitarra e violino "sustentando" um dó, ou seja, algo inesperado [se alguém tive um songbook deste álbum, por favor, me digam qual é este acorde final...rsrrs] e tudo numa velocidade estonteante. Após este susto temos os improvisos [maravilhosos] da banda e a repetição ocasional do tema, quase uma forma rondó.

O álbum começa com "meeting of the spirits", faixa que devo confessar ser uma de minhas músicas prediletas, mas aqui pretendo me conter ao comentá-la [rsrsrs]. Esta faixa talvez tenha sido composta para soar misteriosa, intrigante, dramática e quem sabe até esquisita ao ouvido mais desavisado. A introdução composta de uma serie de acordes sem definição tonal [que não podemos afirmar a que tonalidade pertence exatamente] e modal [ou seja, sem a identificação maior/menor], assim o Mahavishnu faz o favor de nós deixarmos sem referencia tonal, o que é fantástico, pois nossa percepção se livra das "amarras da tonalidade". Esta introdução nos revela a conexão do Mahavishnu com música erudita contemporânea estes acordes da introdução nos remetem de imediato a Olivier Messiaen e sua harmonia baseada em escalas artificiais e simétricas. Em seguida a introdução outro aspectos composicional interessante de ser observado é o acompanhamento dos improvisos de caráter claramente minimalista, é bom lembrar que no período em que se gravou este álbum os compositores deste movimento da música erudita norte-americana já haviam tomado de assalto um enorme espaço e influenciado muito músicos da época [e até hoje influenciam direta ou indiretamente]. Este acompanhamento dividisse em duas partes, sendo a primeira delas uma serie de acordes executados pela e guitarra e o teclado, e a segunda uma linha melódica executada pelo violino e o contra-baixo. Sobre esta base McLaughlin apresenta o famoso tema da música, a partir daí temos uma seqüência de variações e improvisos baseados em escalas modais [menor; frígio, pentatônicas].

O álbum segue com uma diversidade de momentos maravilhosa, sem claro parecer que esta "atirando-a-esmo". A faixa "the dance of maya" parte do dissonante e descompassada cadência rítmica e desemborca num blues em 10/8 que se alterna levada que pode nos lembra o Rush [ou será que antecipa?], ao final a faixa mistura tanto sua configuração inicial com o blues. Já "a lotus on the irish stream" é um ensaio acústico singelo e belo. No outro lado da moeda temos a "pauleira" de "the noonward race" e "vital transformation" [que devem ter sido as músicas de cabeceira de muito Dream Theatre da vida].
Esta pérola chamada "the inner mounting flame" não é um "álbum para músicos" e sim para aqueles que gostam de boa musica, principalmente, aquela música que trouxe [e traz] realmente algo de novo e interessante.


Um Abraço a todos.

Onde encontrar o Mahavishnu Orchestra?

http://br.youtube.com/watch?v=J88Ep3_vKIk


http://br.youtube.com/watch?v=DZPuMdZlJYg


http://pt.wikipedia.org/wiki/Mahavishnu_Orchestra

Umas poucas palavras sobre os Suno IA da vida e o apocalipse musical.

Aviso: esse texto contém ironia e é uma opinião pessoal incapaz de qualquer ingerência sobre a realidade... Mas já que eu tinha tempo livre ...